Valor Econômico
A indústria de veículos comerciais pesados está operando com ociosidade próxima de 70%, nas contas da MAN, segunda maior montadora de caminhões e ônibus do país. De acordo com o presidente da empresa na América Latina, Roberto Cortes, o setor caminha para produzir cerca de 120 mil veículos neste ano, quando a capacidade instalada dessa indústria gira ao redor de 400 mil unidades.
A situação, lembrou Cortes, tem forçado as montadoras, inclusive a MAN, a lançar medidas de ajuste de produção e de mão de obra, como férias coletivas, fechamento de turnos de produção, suspensão de contratos de trabalho (“layoff”), redução na jornada laboral e programas de demissões voluntárias.
O executivo acredita que o setor tem sido afetado por uma conjunção de vários fatores adversos – a chamada “tempestade perfeita” -, porém com data para acabar. A dificuldade é saber quando acontecerá o ponto de inflexão, disse.
As declarações foram feitas durante seminário sobre perspectivas organizado na capital paulista pela agência de notícias Autodata, na qual o chefe da MAN e a Anfavea, entidade que abriga as montadoras, traçaram a expectativa de reação no primeiro semestre de 2016, enquanto dirigentes das sistemistas de autopeças Bosch e Delphi apostaram em retomada mais distante, apenas na segunda metade do próximo ano.
Ao falar dos fatores temporários que estão derrubando o desempenho da indústria de caminhões, Cortes citou a instabilidade política, o baixo nível de confiança dos consumidores, a recessão econômica e o aumento dos juros no financiamento a bens de capital, bem como a alta de custos decorrente da inflação e da desvalorização cambial. O executivo falou também do impacto provocado pela paralisação de grandes obras de infraestrutura e pelo “corte drástico” nas compras de caminhões e ônibus pelo governo.
Segundo Cortes, o quadro de excesso tanto de capacidade instalada como da mão de obra tem sido agravado pela guerra de preços entre as montadoras e pela escalada de custos, tendo como consequência pesados prejuízos financeiros nas empresas.
O executivo ressaltou que a retomada do mercado no ano que vem vai depender da melhora do ambiente político. Fora isso, a inflação terá que dar sinais de redução, assim como o governo precisará dar mostras de que conseguirá reverter o déficit fiscal, disse o presidente da MAN. Feito isso, ele avaliou que será possível abrir caminho a uma recuperação gradual do combalido nível de confiança de consumidores e empresário na economia, visto como grande responsável pelo agravamento da crise na indústria automobilística. “Há condições para que isso aconteça no segundo semestre”, afirmou.
Mais cedo, o presidente da Anfavea, Luiz Moan, destacou que, apesar da recessão setorial, nenhuma montadora está adiando ou cancelando investimentos já anunciados. Durante sua participação no seminário, ele citou fábricas inauguradas ou prestes a serem abertas por montadoras como exemplos que indicam a confiança na recuperação do setor no longo prazo.
No curto prazo, porém, a reação, prevista inicialmente pela Anfavea para julho, só deve acontecer a partir do segundo trimestre do ano que vem, repetiu Moan, que atribui o atraso da retomada à demora na aprovação do pacote de ajuste fiscal no Congresso – reconhecendo, nesse ponto, o impacto da instabilidade política sobre o setor -, bem como à deterioração nos índices de confiança.
A Anfavea prevê estabilidade, com viés de alta, das vendas no segundo semestre, quando tradicionalmente há um aquecimento do mercado.