Valor Econômico
Pela segunda vez consecutiva, a inflação para as famílias que ganham até 2,5 salários mínimos atingiu, na medida acumulada em 12 meses até agosto, o maior nível em mais de dez anos, de acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV). A alta dos preços foi pressionada pelo avanço nos alimentos e nos administrados ao longo de 2015. É o que mostrou o Índice de Preços ao Consumidor – Classe 1 (IPC-C1), que apura a inflação para as famílias de baixa renda.
Embora o indicador tenha desacelerado entre julho e agosto, de 0,68% para 0,06%, favorecido por alimentos in natura mais baratos, a taxa em 12 meses subiu de 10,31% para 10,37% no mesmo período – novamente a mais elevada da série histórica, iniciada em 2004, e que deve continuar a acelerar nos próximos meses, segundo a fundação.
A tendência de alta acende sinal de alerta para a inflação de 2016, assinalou o economista da fundação, André Braz. O IPC-C1 indica também que a inflação dos mais pobres é maior que a das famílias mais abastadas. O Índice de Preços ao Consumidor – Brasil (IPC -BR), que mede a inflação para famílias com ganhos até 33 salários mínimos, acumulou alta de 9,73% em 12 meses até agosto.
Em agosto sobre julho, quatro das oito classes de despesa componentes do IPC-C1 tiveram taxas mais baixas. O grupo alimentação saiu de alta de 0,94% para queda de 0,36%, graças às hortaliças e legumes (1,84% para -10,76%). Habitação cedeu de 1,18% para 0,18%, puxada pela tarifa de eletricidade residencial (3,80% para -0,83%). Vestuário aprofundou a deflação de -0,21% para -0,26%, influenciado especialmente por roupas masculinas (0,80% para -0,53%). As despesas diversas desaceleraram (0,16% para 0,12%) sob efeito dos alimentos para animais domésticos (0,56% para -0,05%).
A desaceleração mensal, no entanto, não sinaliza inflação mais comportada nos próximos meses. Braz explicou que esse resultado mensal de agosto teve influência sazonal: o período atual historicamente é de maior oferta de hortifrutigranjeiros – o que ajuda a reduzir preços entre os in natura. Os alimentos representam em torno de 32% dos gastos mensais das famílias mais pobres, que são pesquisadas pelo IPC-C1. “Em torno de dois terços da desaceleração de preços dos alimentos, entre julho e agosto, foi originada dos itens in natura”, afirmou o técnico.
De maneira geral, o ano de 2015 até agosto foi de pressões inflacionárias expressivas para as famílias mais pobres, admitiu o técnico. Além de repiques nos preços dos alimentos, as famílias de baixa renda tiveram que lidar com a alta em preços administrados – que representam em torno de 35% dos gastos das famílias pesquisadas pelo IPC-C1. “Apenas ônibus urbano, que representa em torno de 7% dos gastos das famílias, todas as principais capitais tiveram reajuste na tarifa em janeiro”, diz. “O mais provável é que o IPC-C1 encerre o ano acima de 9%”.