Valor Econômico
Seja por férias ou folgas a operários, seja por greves contra demissões que interromperam as atividades em parques industriais da General Motors (GM), da Volkswagen e da Mercedes-Benz, a produção de veículos terminou o mês passado com o pior resultado de agosto em uma década.
As 216,5 mil unidades que saíram das linhas de montagem – entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus – ficaram 18,2% abaixo do volume fabricado no mesmo período do ano passado. Não se via agosto tão fraco desde 2005, quando 211 mil veículos haviam sido montados em igual mês.
Ainda assim, as montadoras continuam produzindo mais do que vendem ao mercado interno ou ao exterior, o que resulta em aumento no número de automóveis parados em pátios de fábricas e concessionárias, com consequente adiamento da retomada da produção. Em agosto, os estoques avançaram em mais 12,2 mil unidades, chegando a 357,8 mil veículos, o suficiente para atender ao nível atual de demanda por 52 dias.
Sem “enxergar” neste momento a absorção desse encalhe pelo mercado – a expectativa é de recuperação das vendas apenas a partir do fim do segundo trimestre de 2016 -, a Anfavea, entidade que representa as montadoras, já adiantou que a produção de suas associadas continuará fraca por, pelo menos, mais dois meses.
GM, Volkswagen, Ford, Renault e Mitsubishi estão entre as que programaram férias neste mês. O último anúncio veio da Renault, que, a partir de hoje, para por três semanas a produção na linha do parque industrial no Paraná que produz o furgão Master, junto com a picape Frontier, da Nissan. O setor que fabrica automóveis no local não será afetado, bem como a produção de motores.
Ao divulgar os resultados do setor em agosto, o presidente da Anfavea, Luiz Moan, disse que o ciclo de ajuste dos estoques persistirá entre setembro e outubro, tendo em vista a meta de adequar o encalhe para o “ponto de equilíbrio” de 30 dias. “Serão meses de produção mais reduzida”, disse o executivo.
Nas contas da Anfavea, 27,4 mil operários, ou 20% da mão de obra, serão afastados da produção neste mês em virtude de férias coletivas ou suspensão temporária de contratos de trabalho, o chamado “layoff”. O número não inclui reduções de jornadas negociadas no âmbito do programa de proteção ao emprego, o PPE, aprovado na semana passada pelos funcionários da Mercedes-Benz no ABC paulista.
Depois da Mercedes, a Volkswagen começou a negociar na sexta-feira com o sindicato dos metalúrgicos a adesão da fábrica de São Bernardo do Campo ao programa, que reduz custos com salários em troca da manutenção dos empregos. As partes voltam a se reunir hoje e amanhã para acertar a proposta de adesão ao PPE a ser apresentada aos trabalhadores.
Apesar de medidas do tipo para evitar cortes, o número de demitidos na indústria de veículos e tratores agrícolas já soma 10,2 mil pessoas desde o início do ano, o que eleva para 25,3 mil o total de postos eliminados desde novembro de 2013, quando as montadoras iniciaram o ciclo de ajuste de mão de obra. Nesse período, o setor eliminou 16% de sua força de trabalho.