IDIANA TOMAZELLI, MARIANA SALLOWICZ
Procedimento adotado nos setores de comércio e serviços tem evitado um aumento ainda maior na taxa de desemprego
RIO A recontratação de trabalhadores com remunerações menores impede um baque ainda maior sobre o emprego nos setores do comércio e serviços. Em julho, o rendimento médio desses setores foi menor do que em igual mês do ano passado, já descontados os efeitos da inflação. A queda foi de 3,6% no comércio e de 1,9% nos serviços, segundo dados da Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE.
O economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria Integrada, aponta que o recuo se deve à substituição de pessoas com salários mais elevados por trabalhadores que aceitem ganhar menos, processo que ocorre principalmente entre os que têm carteira assinada. Tratase de uma saída para não esvaziar os estabelecimentos, em geral intensivos em mão de obra. “As remunerações estão caindo diante de um menor dinamismo desses setores”, diz.
Bacciotti afirma que o impacto vem da redução do consumo, em meio a um cenário de crédito caro e escasso, inflação elevada e confiança em queda. “Todos esses fatores têm trazido consequências negativas para os setores de serviços e comércio”. Além disso, o economista destaca que alguns trabalhadores passaram a buscar alternativas em pequenos empreendimentos, na condição de conta própria. Muitas vezes, isso significa renda incerta e menor.
A vendedora Rita de Cássia, de 33 anos, foi dispensada em julho, após trabalhar durante nove anos e meio numa livraria no Rio de Janeiro. Entrou na mira porque recebia R$ 1,2 mil mensais, um salário elevado, aos olhos dos chefes. Nos últimos meses, a empresa mandou embora funcionários antigos e contratou outros por um salário em torno de R$ 800, pouco acima do mínimo.
“As demissões estão ocorrendo nos últimos meses e são sempre dos empregados que estão há mais tempo na livraria e, portanto, recebem mais. Muitas lojas do grupo fecharam”, conta Rita. “Vou tentar mudar de área, trabalhar com estética. Já fiz um curso na área. Mas a situação atual, as notícias que ouvimos, me deixam preocupada.”
Para o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci Júnior, os estabelecimentos de alimentação fora do lar, intensivos em mão de obra, reduziram o quadro de funcionários dentro de seus limites e depois passam para a substituição de trabalhadores. “A solução é fazer um turn over (renovação), já que não é possível cortar muitos empregados em restaurantes e bares”, afirma.
O economista Bruno Fernandes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), acredita, porém, que o momento ainda não chegou ao ponto de demissões em massa.
“Como o empresário não vê perspectiva de recuperação no curto prazo, ele ajusta a estrutura de custos com cortes. A troca se dá quando tem perspectiva de recuperação, o que pode se dar em outro estágio”, avalia.