O rendimento médio real dos empregados que têm mais de 40 anos subiu no último ano e a desocupação afetou menos esta faixa etária. Enquanto isso, jovens sofrem com a crise econômica
São Paulo – O aumento do desemprego e a desaceleração do rendimento afetam menos os brasileiros que já passaram dos 40. Em tempos de retração na economia, trabalhadores com mais experiência são valorizados pelas empresas.
A crise econômica mudou o desenho do mercado de trabalho no Brasil. O “pleno emprego” anunciado pelo governo há dois anos, quando pouco mais de 5% dos brasileiros estavam desempregados, se enfraqueceu. Hoje, 8,3% daqueles que procuram trabalho não o encontram. Mas o cenário não é tão ruim para todos: brasileiros com mais de 40 anos ganharam espaço nos últimos meses e têm rendimentos em alta.
O último levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua trimestral (PNAD), feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que os ganhos mensais das faixas etárias mais elevadas cresceram de um ano pra cá. O rendimento médio real dos trabalhadores que têm entre 40 e 59 anos subiu de R$ 2.123 para R$ 2.143.
Para aqueles que têm mais de 60 anos, o crescimento foi maior, de R$ 2.238 para R$ 2.311 por mês. Os valores aparecem na comparação entre o período que vai de abril a junho do ano passado e o segundo trimestre de 2015.
“Como temos um cenário de crise, há necessidade de manter o que é fundamental para as empresas. Geralmente, as pessoas que têm mais tempo de casa, mais experientes, acabam sendo valorizadas”, explica Marco Túlio Zanini, professor da FGV. “Espera-se que os jovens contribuam menos por estarem começando agora. O trabalhador de quarenta e poucos anos já tem conhecimento acumulado, o que é importante em momentos de crise”, conclui Zanini.
A alta no rendimento dos mais velhos contrasta com a queda na soma dos ganhos mensais dos jovens. Em um ano, os brasileiros de 18 a 24 anos viram suas receitas caírem de R$ 1.044 para R$ 1.032. Também houve diminuição, de R$ 1.761 para R$ 1.759, para os trabalhadores que têm entre 25 e 39 anos. No segundo trimestre de 2015, o rendimento médio para todas as idades ficou em R$ 1.829, abaixo da receita dos brasileiros que têm mais de 40 anos.
Desemprego
A Pesquisa Mensal de Emprego (PME), também realizada pelo IBGE, indica um aumento do número de trabalhadores mais velhos no mercado, agora representados por brasileiros que tem 50 anos ou mais. O crescimento é acompanhado pela queda da quantidade de jovens ocupados no País.
O número de brasileiros de 50 anos ou mais com alguma ocupação cresceu nos últimos quatro anos. Em julho de 2012, o total superava por pouco a barreira dos 5 milhões. Um ano depois, alcançava os 5,4 milhões. Em 2014, eram 5,7 milhões de empregados. Em julho deste ano, mais de 6 milhões compunham o grupo. Mais de um milhão de brasileiros desta faixa etária entraram no grupo dos ocupados nos últimos quatro anos.
O crescimento, mais uma vez, não é visto pelos jovens. Em julho de 2012, 3,1 milhões de brasileiros com 18 a 24 anos estavam ocupados. No sétimo mês do ano seguinte, eram 2,9 milhões. Em 2014, o número caiu para 2,8 milhões e, neste ano, apenas 2,6 milhões possuíam algum tipo de ocupação. Em quatro anos, 500 mil jovens deixaram o conjunto de brasileiros empregados.
“Para os mais novos, a dificuldade para encontrar um trabalho, principalmente quando se trata do primeiro emprego, é naturalmente maior. Agora há também uma piora por causa das movimentações negativas do cenário econômico”, afirma Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Emprego do IBGE. “Muitas vezes, os jovens são os primeiros a perder o emprego, já que suas demissões são menos onerosas para as empresas.”
Azeredo ressalta também que “a perda de estabilidade econômica faz com que mais jovens comecem a procurar emprego para compor a renda familiar, o que fortalece o número de desempregados”.
A taxa de desocupação, medida pela PNAD, comprova que o momento é melhor para os mais velhos. Enquanto 18,6% dos jovens de 18 a 24 não encontraram emprego no segundo trimestre de 2015, apenas 4,4% dos que fazem parte do grupo que vai dos 40 aos 59 anos estavam desocupados no Brasil.