Por receita maior, bancos elevam tarifa em até 169%

Alta de serviço chega a superar em quase oito vezes a inflação, diz estudo da Proteste

Analistas recomendam concentrar operações, financiamentos e aplicações em um só banco para cortar custo

GIULIANA VALLONE
DANIELLE BRANT DE SÃO PAULO

De olho em aumentar as receitas, os bancos vêm elevando as tarifas cobradas de seus correntistas em percentuais bem acima da inflação, segundo levantamento da Proteste (associação de defesa do consumidor) com oito dos maiores bancos do país.

Os dados mostram que o reajuste das cestas de serviços de janeiro de 2013 a agosto deste ano chegou a até 169%, quase oito vezes mais que a variação do IPCA no mesmo período, de 19,63%.

O Banco Central determina que as instituições financeiras ofereçam um pacote mínimo de serviços gratuitos a todos os clientes. Não há regulamentação, porém, sobre o quanto podem cobrar por outras opções de pacotes, que podem ter reajustes anuais.

Segundo consultores, o aumento nas tarifas é uma maneira de ampliar as receitas dos bancos. No primeiro semestre deste ano, a renda de tarifas bancárias do Bradesco cresceu 14,3%, a do Itaú, 11,1%, e a do BB, 9,1%.

Com o desempenho fraco do crédito, os bancos têm conseguido manter –e até elevar– seus ganhos graças, em grande parte, às receitas crescentes de serviços

“Não dá para atribuir o aumento apenas à inflação, porque superou muito o índice oficial. As tarifas vão direto para o ganho dos bancos, que podem cobrar o que acham viável para eles”, diz Renata Pedro, técnica da Proteste.

“A tecnologia e a curva de experiência só melhoram e reduzem os custos. Por que a compensação de um cheque ficou mais cara? Só pelo aumento do aluguel do prédio? Por que um TED fica mais caro? A tecnologia barateia o processo, mas as tarifas só aumentam”, afirma Mauro Calil, consultor financeiro do banco Ourinvest.

SAIBA COMO SE PROTEGER
Para se proteger da alta no preço dos serviços, os consumidores podem tomar medidas simples. Uma delas é concentrar as operações financeiras em uma única instituição, diz Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper. “Essa história de ter conta em vários bancos é um costume antigo, de quando as pessoas tinham medo de a instituição quebrar.”

Para quem é empregado, o ideal é dar preferência ao banco em que o salário é pago. Em geral, acordos entre as empresas e os bancos resultam em pacotes de serviços sem custo aos correntistas.

Uma outra dica é tentar negociar os preços com os bancos. “Vale concentrar investimentos e gastos em um só banco para ter força para negociar as tarifas. Se ele não quiser conversa, vá para outro”, diz Calil.

É preciso ficar atento ao perfil de utilização de serviços. Muitas vezes, o cliente paga por um pacote mais caro, de que não precisa, sem saber. “Faça a conta para verificar se realmente precisa de tudo que está pagando, como um determinado número de transferências ou folhas de cheque”, afirma Viriato.

Para Calil, é preciso checar o extrato bancário e saber o gasto anual com tarifas. “Muitas vezes o que você economiza é um salário mínimo se trocar o pacote de serviços no mesmo banco”, afirma.

O consumidor que se sentir lesado pelas cobranças deve reclamar pelos canais de atendimento, recomenda a Febraban (Federação Brasileira de Bancos).

Se a queixa pelo SAC não for respondida em até cinco dias, o consumidor deverá procurar a ouvidoria do banco, que tem 15 dias para resolver a questão.