Encontro Internacional de Montadoras coloca frente à frente trabalhadores e diretores de empresas discutindo soluções para crise que afeta o setor e impacta a economia mundialmente
A visão diferenciada e o confronto de ideias estiveram presentes no primeiro dia de debates da 2ª edição do Encontro Internacional de Montadoras, que teve início nesta quarta-feira (14/10), em Gravataí (RS). O encontro reuniu as principais autoridades no Brasil no segmento, entre líderes empresariais e sindicais. O Presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, foi o primeiro palestrante trazendo uma abordagem sobre o setor e os desafios a serem vencidos.
– Temos a cadeia mais longa da indústria. Começamos na indústria siderúrgica e indústria petroquímica e terminamos no pós-venda. Não existe uma cidade no Brasil que não tenha um posto de combustível ou uma oficina. Atualmente, 45 % dos impostos pagos no Brasil se devem ao nosso setor. Assim como estamos sendo apontados como o setor que está afundando o país, somos os agentes responsáveis pela mudança. Na década de 90 o Brasil comemorou o carro popular lançado a sete mil dólares. Hoje, estamos vendendo carros à preço mais baixo do que àquela época fazendo as devidas conversões da moeda – afirmou Moan.
O presidente da Anfavea rebateu as críticas de que são escolhidas cidades fora do eixo das capitais para obtenção de mão de obra barata.
– Gravataí não tinha hotel e nem shopping. Catalão também mudou. Não é verdade que vamos para determinados locais em busca de mão de obra mais barata. É preciso enxergar esse cenário de forma muito mais ampla – disse.
Uma das participações mais representativas foi do presidente do UAW, sindicato que representa os metalúrgicos nos Estados Unidos Richard Bensinger, que fez intensos elogios à organização sindical existente no Brasil.
– Não há outro lugar que eu gostaria mais de estar do que aqui e vou dizer por que. Tenho visto muitas lutas de sindicato, mas nunca em toda minha carreira vi algo tão forte e próximo do trabalhador como o trabalho feito aqui pela Força Sindical. Nós temos muito a aprender com realidades diferentes e estou aqui diante da melhor organização sindical do mundo – garantiu Richard.
O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí, Valcir Ascari, saudou a presença de importantes líderes no setor automotivo.
– Estamos reunindo todas montadoras do Brasil e Estados Unidos. Então, queremos um debate aprofundado sobre o emprego. Nada mais justo do que conversar com os empresários. Não adianta fazer um evento sozinho onde aparece apenas a nossa ideia. A presença do presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, enriquece o debate – declarou.
O prefeito de Gravataí, Marco Alba, parabenizou o Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí pela iniciativa.
– Quero parabenizar pela visão e leitura dos fatos sociais com esse evento. O Sindicato soube compreender e diagnosticar que a construção dos caminhos para solucionar a crise, passam pelo debate de ideias. Como prefeito me sinto honrado de estar aqui. Tenho a responsabilidade e dever de acompanhar todos os setores e a classe trabalhadora está de parabéns porque está buscando alternativas e ações concretas – afirmou.
A discussão na abertura do encontro também fez referência ao imenso potencial que a sociedade tem de se recuperar do ambiente de crise que é vivido no setor automotivo. O presidente da Câmara Municipal de Vereadores, Juarez Souza, lembrou que trabalhadores e capital são complementares e um não vive sem o outro.
– O homem com a inteligência que possui e tecnologia existente tem condições de sair dessa crise. As pessoas precisam de empregos e é onde se gera arrecadação para nosso município. Com a crise, há um efeito dominó que atinge as empresas e os operários e nada melhor do que um encontro como esse para o debate disso tudo – afirmou.
Para o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM) e Força Sindical Nacional, Miguel Torres, é oportuna a discussão envolvendo todos os setores pelo momento difícil que passa o pais.
– Quem mais está sofrendo são os trabalhadores. A indústria passa por sérias dificuldades com aumento do desemprego, taxa de juros e da inflação. Além disso, há uma crise de confiança e corrupção. Todos esses fatores misturados representam o que acontece no brasil e por isso vemos tudo com muita preocupação – declarou.
O presidente da Força Sindical do Paraná, Sérgio Butka, fez críticas ao modelo atual.
– As montadoras buscam mão de obra barata para aumentar seus lucros e depois encaminhar isso aos seus países de origem. Agora, não podemos deixar que a crise tire o foco de nossos objetivos que, há muitos anos, começamos junto com o sindicato nos EUA. Temos como propósito a organização e solidariedade de todos trabalhadores em montadoras no Brasil. Queremos que todos trabalhadores brasileiros tenham o mesmo tratamento – discursou.
Também se pronunciaram o presidente em exercício da Força Sindical do Rio Grande do Sul, Marcelo Furtado; o presidente do Sindicato da Borracha de Gravataí, Moacir Bittencourt; o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul, Aparecido Inácio da Silva, (Cidão) e o presidente da Federação Estadual dos Metalúrgicos do Rio Grande do Sul, Élvio Lima.
Participam do encontro integrantes do UAW, sindicato que representa os metalúrgicos nos Estados Unidos e delegações de todas as cidades que possuem plantas automotivas como Catalão e Anápolis, em Goiás (GO); São Paulo; São Caetano do Sul (SP); Curitiba (PR) e Volta Redonda (RJ).
A programação continua ao longo desta quinta-feira (15/10) com debates sobre o cenário econômico das montadoras, através do pronunciamento do representante do DIEESE, Roberto Anacleto e também com a discussão do fortalecimento da ação dos sindicatos através da política de redes. Durante à tarde será a vez dos participantes conhecerem a experiência norteamericana do Sindicato UAW. No encerramento a pauta traz o papel do judiciário com a palestra do desembargador Ricardo Carvalho Fraga.
Também acontece audiência pública em homenagem ao Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí, na Câmara de Vereadores do município, a partir das 19h.
Programação:
Quinta-feira (15 de Outubro)
9h às 10h30min
Tema: Análise do segmento de montadoras.
Palestrante: Roberto Anacleto – DIEESE.
10h30min às 12h
Tema: Estratégia de fortalecimento da ação dos sindicatos através da política de redes.
Palestrantes: Everaldo e Mônica
12h – Intervalo para almoço
14h às 15h –
Tema: Como sindicalizar em um sistema individual e voluntário.
Palestrante: Richard Bensinger UAW
15h às 16h
Tema: O papel do judiciário trabalhista na aplicação do princípio da proteção.
Palestrante: Ricardo Carvalho Fraga, desembargador federal do trabalho.
16h às 17h30min
Tema: A estratégia que deu certo: redução da jornada de trabalho sem redução salarial.Campanha global de organização no local de trabalho.
Palestrante: Edson Dorneles (SinMgra) Virgínia Coughlin UAW
Sexta-feira (16 de outubro)
9h às 10h
Tema: Terceirização
Palestrante: Sérgio Butka e Iraci
10h às 10h30min
Tema: Medidas criativas para enfrentar a crise no setor automobilístico.
Palestrante: Sidnei Alvarez, diretor da GM
10h30min às 11h30
Tema: Campanha de Sindicalização na Nissan – EUA
Palestrante: Sanchioni Butler UAW
Sobre o Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí
O Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí representa aproximadamente 14 mil funcionários dos setores metalmecânico, eletroeletrônico, autopeças e montadoras de automóvel. Abrange centenas de empresas do município de Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre, entre elas a montadora General Motors e Sistemistas.
PlayPress Assessoria de Imprensa
Redação e coordenação: Marcelo Matusiak