Eleição nos EUA e reflexos no mundo

José Pereira dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos

O mundo acompanha, com interesse real, o processo eleitoral nos Estados Unidos. É natural esse interesse. Afinal, estamos falando da maior potência econômica, científica e militar do planeta. O perfil do futuro governante norte-americano dirá muito sobre como será a relação comercial e militar de seu país com o mundo e, especialmente, com a América Latina.

Embora seja um sistema testado e aprovado pelos partidos hegemônicos – Democrata e Republicano -, o modelo não é à prova de surpresas. Décadas atrás, ninguém acreditaria que um país fortemente marcado pelo racismo fosse eleger um presidente negro – Barack Obama. Nem que esse presidente fosse restabelecer relações com Cuba.

A surpresa da eleição atual é o senador democrata Bernie Sanders, que vem ganhando prévias e colocando em risco a candidatura de Hillary Clinton, experiente advogada, esposa de ex-presidente e poderosa ex-secretária de Estado. Mas o fato é que Sanders está avançando.

E qual a sua plataforma? A crítica ao conservadorismo dos partidos, ao financiamento político-partidário e à distância entre a política oficial e o mundo real. Após vencer a prévia em New Hampshire, ele falou: “Os norte-americanos não aceitam mais um sistema de financiamento eleitoral corrupto, dirigido pelo 1% dos mais ricos. Não podemos continuar com um país onde os bilionários podem comprar as eleições”.

Cá pra nós, se o candidato democrata estivesse falando do Brasil, também estaria coberto de razão. Afinal, os velhos modelos eleitorais – ainda que aprovados em sucessivas eleições – mostram forte desgaste. Na verdade, a influência do dinheiro chegou a um patamar intolerável, que as pessoas não aceitam mais como natural ou democrático.

Também chama atenção na campanha de Sanders o discurso ligado à temática social e mais próximo da esquerda tradicional. A postura do senador de 72 anos tem atraído o apoio de jovens e agitado as redes sociais. Aliás, daqui pra frente, essas redes serão cada vez mais influentes no debate político e no processo eleitoral.

O Brasil tem uma sólida relação com os Estados Unidos, que durante décadas foi nosso primeiro parceiro comercial. Não tem sido uma relação tranquila sempre. Basta lembrar que o golpe de 1964 foi bancado pela potência do norte, que, por cerca de duas décadas, deu sustentação e ajudou o regime ditatorial a se manter.

Sanders pode até não passar no funil das prévias. Pode passar, disputar a eleição e perder para um republicano conservador. Mas sua mensagem ecoa lá e cá, mostrando que a população quer eleições mais transparentes, mais democráticas e sem o peso esmagador do dinheiro, porque os que financiam hoje correm amanhã a buscar os dividendos. Como estamos cansados de ver por aqui. Estamos cansados de ver e não aceitamos mais.

José Pereira dos Santos
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região