O Banco Central (BC) interrompeu, na última reunião do Copom, dias 19 e 20 de janeiro, a alta dos juros básicos, mantidos em 14,25% ao ano, mas bancos, financeiras, lojas e empresas de cartão de crédito continuaram a elevar as taxas, segundo a Anefac, que divulga mensalmente um relatório sobre os juros mais praticados no mercado livre. Em alguns casos, como o rotativo dos cartões de crédito, os juros chegaram aos maiores patamares desde 1995, momento em que taxas elevadíssimas eram aplicadas para estabilizar o real.
Em 2015, segundo o BC, a dívida dos brasileiros no rotativo do cartão de crédito cresceu 21,2% em relação a 2014 – mais que o dobro da taxa de evolução do estoque de crédito –, atingindo R$ 34,5 bilhões. Ainda que se trate de uma parcela pequena do crédito, correspondendo a 2,3% do total das operações com pessoas físicas, o crescimento revela que mais brasileiros optam pelas operações mais caras, seja por descontrole das finanças pessoais, seja pela falta de alternativas mais baratas.
Em janeiro, os juros no rotativo do cartão de crédito chegaram a 14,56% ao mês ou 410,97% ao ano, uma variação substancial em relação aos juros de 11,22% ao mês de janeiro do ano passado.
A alta de juros foi generalizada tanto em 2015 como em janeiro de 2016, alcançando pessoas físicas e jurídicas. Em média, nos últimos 12 meses, as taxas de juros cobradas das pessoas físicas passaram de 6,39% ao mês (110,29% ao ano) para 7,67% ao mês (142,74% ao ano). No mesmo período, os juros para as pessoas jurídicas aumentaram de 3,67% ao mês (54,11% ao ano) para 4,33% ao mês (66,31% ao ano).
Mesmo as linhas de menor custo, caso dos financiamentos de automóveis feitos a pessoas físicas, que no mês passado custaram 2,30% ao mês ou 31,37% ao ano, ainda devem ser consideradas altas levando em conta a recessão e a queda da renda real dos trabalhadores. O mesmo raciocínio se aplica às pessoas jurídicas, que pagaram em média, em janeiro, 2,59% ao mês nas operações de capital de giro, o que corresponde a 35,91% ao ano.
Juros altos em tempos de recessão são cobrados por instituições privadas e públicas, com exceções como o BNDES. No caso dos cartões de crédito, é apropriado o comentário da economista Marianne Hanson, da Confederação Nacional do Comércio (CNC): o risco é de débitos que dificilmente serão pagos e cuja inadimplência já é recordista (40,3%).