Não demorou muito para a nova diretoria do Banco Central perceber que atrelar o corte dos juros a resultados imediatos em relação às reformas do governo Michel Temer não levaria a lugar algum.
Nesta terça-feira (27), a instituição divulgou um dos seus documentos mais importantes, o Relatório Trimestral de Inflação, e aproveitou para sinalizar que os juros devem mesmo cair neste ano. Provavelmente na reunião do Copom de 19 de outubro.
Depois de apresentar em seus últimos comunicados um discurso mais racional sobre como tomaria decisões sobre juros, olhando a inflação e o andamento das reformas fiscais, os diretores do BC lembraram que “tomam suas decisões com base em avaliações necessariamente subjetivas”, embora “calcadas em evidências sólidas”.
Daí as apostas, inclusive de grandes bancos, de que o BC irá de forma “subjetiva”, mas com base em “evidências sólidas”, iniciar um novo ciclo de corte de juros em breve.
O BC acrescentou ainda que, se cumprir a promessa de levar a inflação dos atuais 9% para 4,5% até o final de 2017, fará com que o IPCA fique abaixo da meta em 2018. A leitura é que será necessário, portanto, buscar um equilíbrio.
Ou, como mostram suas projeções: se o BC cortar os juros para 11% até o final de 2017, como prevê o mercado, e o dólar não ultrapassa R$ 3,50, dá para chegar a um IPCA abaixo de 5% no próximo ano e de 4,5% no ano seguinte.
Para um governo que ainda tenta se firmar, tanto do ponto de vista político como econômico, seria uma ótima notícia deixar para trás a taxa básica de 14,25% ao ano herdada da administração anterior e uma inflação de dois dígitos. Vários ministros, aliás, já pediram o corte dos juros.
Resta saber se as “evidências” de uma inflação em queda e de aprovação de reformas vão se solidificar. Ou se a economia brasileira voltará a fazer água e a credibilidade do BC irá se evaporar novamente.