Alumínio: CEO mundial aponta aumento do royalty na mineração como outro ponto crítico
Ivo Ribeiro | De Brasília
Ruy Baron/Valor
Klaus Kleinfeld, principal executivo da Alcoa, maior fabricante mundial de alumínio, fez uma rápida passagem por Brasília na quarta-feira, mas com tempo suficiente para deixar uma mensagem contundente ao governo brasileiro: o país tem de remover barreiras que travam novos investimentos na indústria de alumínio. O custo elevado da energia é apontado como o principal deles. A mudança no código de mineração, que pode levar a aumento na taxação de royalty sobre a extração de bauxita, a matéria-prima básica, é outro ponto crítico.
A tarifa de energia cobrada no Brasil para indústrias e empresas eletrointensivas é “absolutamente não competitiva” para produção de alumínio, disse o executivo. “Atualmente, se paga mais de US$ 70 o MWhora no país; dez anos atrás esse valor estava em US$ 27”, exemplificou. O valor médio pago pela Alcoa no mundo é de US$ 35 o MWhora.
Esse assunto foi um dos temas tratados por ele com dois ministros brasileiros – Fernando Pimentel, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) e Edison Lobão, de Minas e Energia, além de um representante do Itamaraty. Um encontro também foi tentado com a presidente Dilma Rousseff, profunda conhecedora da questão energética no Brasil, pois foi ministra do MME no primeiro governo do presidente Lula. Mas não houve espaço na agenda de Dilma.
A importância dessas questões trouxe o executivo pela primeira vez à capital brasileira. Ele chegou no avião particular da companhia antes do sol raiar. No final da tarde já embarcava para Belém (PA), onde jantou com as altas autoridades do governo paraense. Pela manhã partiu para o Suriname. Foi justamente no Pará que o grupo acabou de fazer investimentos de US$ 2 bilhões, na abertura de uma nova mina de bauxita, Juruti, localizada em plena Amazônia.
O aumento da taxa de royalties na mineração de bauxita afetaria justamente os planos de expansão dessa mina, que tem reservas para 100 anos e poderia quadruplicar seu tamanho no futuro. “Investimentos US$ 2 bilhões, começamos a operar há menos de dois anos e ainda não estamos tendo o retorno desse capital”. Para Kleinfeld, isso soa como quebra de regras estabelecidas. “E como ficaria a credibilidade do país? Diante disso, valeria a pena continuar investindo no Brasil?”.
O executivo aproveitou a viagem para reforçar a importância do grupo interministerial que o governo está montando para criar, no prazo de 90 dias, um pacote de medidas para a indústria de alumínio no país, conforme publicou o Valor na semana passada. “Essa é uma medida extraordinária, a qual apoiamos. Vamos trabalhar juntos com esse grupo”, afirmou. Só falta a publicação de uma portaria de governo oficializando a decisão.
Na produção de alumínio, a energia tem peso crucial: responde por 25% a 35% do custo. No Brasil, tem ficado acima desses percentuais, o que já forçou o fechamento de duas fundições do metal: uma em 2009, pela Vale, e outra pela Novelis, em 2010.
Para ganhar competitividade na produção no país, desde 2001 a multinacional americana do alumínio investiu em quatro hidrelétricas, junto com outras empresas industriais. Isso já lhe garante 70% de autosuficiência e até permite iniciar a substituição gradual da energia da Eletronorte que supre sua fábrica no Maranhão.
Mas a companhia luta há vários anos para obter a licença de duas outras concessões: Santa Isabel, no rio Araguaia (no Norte), e Pai-Querê, no Sul do país. “Isso nos daria 100% de energia própria e aumentaria nossa competitividade”, disse o executivo.
Atualmente, no Brasil, apenas a CBA, da Votorantim Metais, conta com um índice acima disso: tem cerca de 80% de energia oriunda de hidrelétricas próprias.
A Alcoa do Brasil, reforçou Kleinfeld, é uma parte muito importante da Alcoa mundial. “Estamos aqui há muito tempo e apenas nos últimos dez anos investimos US$ 4,9 bilhões. Temos seis mil funcionários e acreditamos que o país vive um momento de muitas oportunidades, mas a conversa com os representantes do governo é para ver a melhor forma de aproveitar essas oportunidades”, afirmou, pouco antes das reuniões. O grupo chegou ao país em 1965 e instalou sua primeira fundição em Poços de Caldas (MG).
Esses recursos foram aplicados na expansão de uma refinaria de alumina no Maranhão (US$ 1,6 bilhão), na abertura da mina Juruti e na construção de quatro hidrelétricas (US$ 1,25 bilhão), feitas em consórcio com outras empresas industriais e elétricas.
Nos anos 80, a companhia, em consórcio com a BHP, investiu alto na construção da Alumar, em São Luís (MA), estimulada pela oferta da energia a custo competitivo da hidrelétrica de Tucuruí. O contrato foi renovado em 2004 e vai até 2024. Devido a vários fatores, como o câmbio, o custo dessa energia já passa de US$ 70 o MWhora. A Alumar faz 450 mil toneladas de alumínio ao ano e 3,5 milhões de toneladas de alumina.
O executivo evitou compromissar um valor de investimento no país caso essas barreiras sejam removidas, mas lembrou que as novas fronteiras de projetos no setor passam por regiões de energia barata. Na Europa, inaugurou um projeto em 2007 na Islândia. No momento, com o governo e investidores da Arábia Saudita monta um megaprojeto de quase US$ 11 bilhões naquele país. A energia, a preço bem competitivo – ninguém revela a tarifa, mas é algo bem abaixo de US$ 30 o MWhora -, valor considerado o teto competitivo da indústria.
“O Brasil não estaria totalmente em desvantagem, pois dispõe de expressivo potencial hidrelétrico e outras vantagens, como jazidas de bauxita de excelente qualidade [é a terceira maior reserva do mundo], mas tem de aproveitar melhor esse potencial”, afirmou Kleinfeld.
A companhia chegou a avaliar investimento na hidrelétrica de Belo Monte, mas o custo da obra, conforme verificou, deixaria a tarifa fora de competitividade para suprir uma nova fábrica de alumínio. A Alcoa cogitava uma nova fundição no Pará ou mesmo a duplicação da Alumar. O montante de recursos era estimado em pelo menos US$ 5 bilhões na época – dois anos atrás.
Kleinfeld disse que a empresa vislumbra novos investimentos no país no segmento de produtos acabados de alumínio para capturar mercados importantes como o de embalagens, chapas para latas de bebidas, materiais para a indústria aeroespacial – “a Embraer já é uma importante cliente nossa” -, de construção civil e da indústria de transportes.. “Estamos muito entusiasmados com as oportunidades nessa área e precisaríamos pensar em montar novas instalações para atender esses mercados”.
No Brasil, a Alcoa obteve receita bruta de US$ 1,6 bilhão no ano passado e produziu 350 mil toneladas de alumínio em duas fundições – Poços de Caldas e São Luís (Alumar). Na fábrica de alumina da Alumar tem 54% de participação, com 1,9 milhão de toneladas de capacidade de produção/ano.
Kleinfeld, nascido em Bremen, Alemanha, e filho de um engenheiro aeroespacial, foi indicado para o conselho da Alcoa em 2003. Em abril do ano passado, ele tornou-se chairman e CEO da companhia, substituindo Alain Belda, depois de ter sido presidente e principal executivo de operações (COO) a partir de outubro de 2007. Antes da Alcoa, o executivo teve uma carreira de 20 anos na Siemens.