Para pôr fim aos cobradores, Doria estuda tarifa mais cara em dinheiro

O prefeito João Doria (PSDB) estuda implantar uma tarifa maior nos ônibus de São Paulo para o passageiro que optar pelo pagamento em dinheiro.

A medida seria uma espécie de primeiro passo para a supressão dos cobradores nos ônibus na cidade, plano que é cogitado desde a gestão Paulo Maluf (1993­1996), mas que, por causa de protestos da categoria e em decorrência de imbróglios judiciais, nunca saiu do papel.

Com a tarifa diferenciada, Doria quer reduzir ainda mais o já pequeno percentual de pessoas (6%) que fazem o pagamento em dinheiro dentro dos ônibus. A ideia é chegar a próximo de zero, tornando a função de cobrador inútil.

A polêmica e a repercussão negativa em torno do reajuste nas passagens de integração entre ônibus, metrô e trem neste início de ano, porém, segundo auxiliares do prefeito, podem retardar ou até mesmo fazer com que a administração opte por outra estratégia.

Doria decidiu congelar a tarifa em R$ 3,80, mas, ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), seu padrinho político, optou por um reajuste acima da inflação para o bilhete de integração, o que foi barrado pela Justiça.

FUNÇÃO EM EXTINÇÃO

A disseminação dos cartões com chip para o pagamento de passagens tornou tecnicamente obsoleta a função de cobrador, ainda que a pressão sindical tenha conseguido manter até agora os cerca de 20 mil empregos no sistema paulistano.

Na prática, o que ocorre é um grande desperdício de recursos. Os cobradores arrecadam por ano cerca de R$ 300 milhões em dinheiro nas catracas, sendo que custam R$ 900 milhões ao sistema.

Campinas, que desde 2014 eliminou a função de seus ônibus e iniciou um programa de otimização da frota, reduziu o custo da operação em 16%.

Segundo o secretário de Transportes da cidade do interior, Carlos Barreiro, com isso foi possível não apenas diminuir o subsídio pago pelos cofres públicos às empresas como aplicar reajustes menores do que a inflação na tarifa.

“Já passou da hora de usarmos a tecnologia para reduzir o custo do sistema”, diz o vereador paulistano Police Neto (PSD).

Francisco Christovam, presidente do sindicato das empresas de ônibus, afirma que é possível extinguir a função de cobrador sem promover uma demissão em massa.

Segundo ele, muitos profissionais podem ser aproveitados em outros cargos, como motoristas, assistentes administrativos, borracheiros etc. O setor, diz ele, tem uma rotatividade (turnover) de cerca 4% ao mês.

Além disso, as empresas concessionárias, afirma Christovam, estariam dispostas a arcar com um programa de incentivos para demissão voluntária e criar um plano de carreira para os motoristas Valdevan Noventa, presidente do sindicato dos motoristas e cobradores, diz que a prefeitura e as empresas estão olhando a questão apenas pelo aspecto financeiro.

Ele argumenta que, sem o cobrador, as viagens vão demorar bem mais, pois, além de arrecadar o dinheiro da passagem e cuidar do troco, o motorista terá de responder aos passageiros que pedem informação, reduzindo sua atenção ao volante. “O cobrador auxilia a população e o motorista”, afirma.

GESTÃO PASSADA
Fernando Haddad (PT), em sua administração, tentou também suprimir a função de cobrador, mas esbarrou em uma ação judicial que contestou o modo como a medida foi aprovada na Câmara Municipal (um adendo a um projeto com outra finalidade).

Doria tem, portanto, duas opções se resolver, de fato, seguir com a medida. Precisa aguardar a decisão final da Justiça sobre o assunto ou aprovar outro projeto de lei na Câmara Municipal.

Procurado pela reportagem para falar sobre a tarifa diferenciada e a supressão dos cobradores, Sérgio Avelleda, secretário dos Transportes, não concedeu entrevista.
Em nota, sua assessoria afirmou que “nada será feito que resulte em demissão ou perda de posto de trabalho”.

A prefeitura, segundo a nota, estuda a recolocação dos cobradores em outras atividades dentro do sistema.

Valdevan Noventa, o presidente do sindicato, diz que deseja conhecer o projeto, mas que não aceitará a eliminação da função. “Se precisar, a categoria vai para a rua protestar”, afirma