Um estudo divulgado nesta semana atribui estatísticas sólidas a uma de nossas maiores catástrofes: o afastamento dos jovens da escola.
A pesquisa conduzida por Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper, revela que o número de brasileiros de 15 a 17 anos –faixa etária compatível com o ensino médio– soma 10,3 milhões.
Desse total, 2,8 milhões perdem o rumo da escola por variados motivos.
Parte significativa (1,5 milhão) nem chega a se matricular no início do ano, outra parcela (700 mil) para de frequentar as aulas antes do fim do período letivo e outra fatia (600 mil) é reprovada por faltas.
O pesquisador não inclui na conta outros 600 mil que repetem por baixo desempenho, o que não necessariamente inclui desengajamento, embora ele possa ser a –ou uma– causa da dificuldade de aprendizagem.
O estudo –que, além de Insper e Instituto Ayrton Senna, teve apoio da Fundação Brava e do Instituto Unibanco– elenca as inúmeras possíveis causas do afastamento do jovem.
Muitas podem soar como obviedade, mas normalmente não povoam nossas análises sobre o tema, que tendem a focar excessivamente a falta de qualidade do ensino.
A dificuldade da escola em ser atrativa repele o adolescente. Essa é uma das pautas urgentes da educação brasileira.
Há outros motivos pessoais e sociais, porém, que se interpõem entre o jovem e a escola e também precisam ser considerados e atacados. A lista é longa e inclui gravidez precoce, violência, necessidade de trabalhar, distâncias longas a serem percorridas, baixa resiliência emocional.
São problemas muito mais próximos de famílias de baixa renda, que, ao afastar o adolescente da escola, contribuem para perpetuar sua situação de pobreza.
A pesquisa de Paes de Barros tenta dimensionar os variados custos do problema para os jovens em nível pessoal (como menor renda futura devido à baixa escolaridade) e para a sociedade.
A evasão e a repetência fazem com que os recursos usados para manter uma criança na escola precisem ser integralmente desembolsados novamente, não raro mais de duas vezes.
Há ainda os custos associados às consequências negativas da formação educacional precária, como a maior probabilidade de envolvimento com violência.
Falei um pouco neste espaço sobre essas questões, em novembro do ano passado, quando escrevi sobre os resultados então preliminares das investigações de Paes de Barros nesse sentido.
Mas outro aspecto muito interessante que a pesquisa recém-divulgada traz à tona é a mobilização que já existe para tentar combater esse problema.
Os autores do estudo fizeram um mapeamento detalhado de mais de cem iniciativas adotadas –entre diferentes Estados ou pelo governo federal– para atacar diversas causas do baixo engajamento juvenil com a escola no Brasil.
O fato de não estarmos de braços cruzados é um alento.
O difícil é entender por que, a despeito dos esforços, estamos estagnados em relação ao aumento das matrículas dos jovens nas escolas, o que tem feito com que 74% dos países avancem mais rapidamente do que o Brasil rumo à universalização nessa faixa etária.
Uma pista talvez passe por não termos ainda uma cultura consolidada de avaliar os resultados das políticas que elegemos e implementamos.
Sem uma maior clareza sobre a eficácia das diversas iniciativas que consumem recursos públicos e privados em prol da educação, será difícil identificarmos quais delas deveriam ser ampliadas, copiadas e aprimoradas.
Se parte dos recursos investidos no combate à evasão juvenil escolar estiver indo para o ralo empurrada por resultados nulos, a conta do desperdício só aumentará.