O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, reforçou nesta segunda (23) a disposição do governo em promover alterações na portaria que redefine o trabalho escravo e sua forma de autuação, de modo a aproximá-la do disposto no Código Penal brasileiro.
Segundo críticos, ao atender a bancada ruralista no Congresso, a nova formulação contraria regras da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e o próprio código Penal.
“O presidente Temer já anunciou que vai acolher sugestões feitas pela procuradora-geral, Raquel Dodge, de modo a precisar o conceito de trabalho escravo com absoluta concordância com o que prescreve o Código Penal”, disse Aloysio Nunes, em reunião do Conselho de Comércio Externo da Fecomercio-SP.
O artigo 149 do Código Penal fala sobre o trabalho escravo, considerado como ato de “Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto.”
ACORDO
A expectativa do governo é que a conclusão política do acordo comercial entre Mercosul e UE, que se arrasta há cerca de 17 anos, seja anunciada em dezembro.
Segundo o embaixador Ronaldo Costa Filho, presente no mesmo evento, a situação não seria “tão crítica” e que UE e Mercosul estariam vendo a “porta da igreja”.
“Eu costumo dizer que uma negociação é um pouco como uma relação de um casal”, disse Costa Filho, que é também diretor do departamento de Negociações Comerciais e Extrarregionais.
“O noivado está extensíssimo, mas estamos acertando as condições do casamento e estamos próximos do dia do matrimônio”.
Para Costa Filho, o que aconteceu em outubro [quando a UE apresentou propostas de cotas de importação de carne bovina e etanol bem abaixo do esperado pelo Mercosul] foi “tensão pré-nupcial”.
“O importante é que o compromisso se mantém firme e a UE tem interesse em fechar acordo, disse ele. Questionado sobre o assunto, o ministro Aloysio Nunes falou que as negociações se dão com as autoridades da UE e as observações da França serão “levadas em conta devidamente”.
Em resposta às exigências francesas em relação aos cuidados sanitários com a carne, Nunes afirmou que não seria preciso a França dizer o quanto isso é importante. “Nós mesmos sabemos”, disse.
O ministro admitiu que as incertezas políticas e a operação Lava Jato afetam a política externa, mas disse não ter dúvidas sobre a vitória do governo em relação à segunda denúncia contra o presidente Michel Temer.
“Essa denúncia é absolutamente inconsistente, mais frágil ainda do que a primeira. De modo que eu não tenho dúvidas que a Câmara dos Deputados vai mandar arquiva-la”, disse. Nunes afirmou também que não acredita em retrocesso significativo na condução da política econômica, comercial e externa na disputa eleitoral do próximo ano.
Citando especificamente os compromisso firmados pelo ex-presidente Lula antes de ganhar as eleições, em 2002, Nunes disse não crer “em grandes retrocessos em relação a uma determinada linha de política econômica, comercial ou de política externa”.
“Não acho que a gente possa eleger gente que possa reverter isso de maneira radical”, afirmou.