Sobretaxa ao aço divide os republicanos

Nem dentro do próprio partido ou governo o presidente Donald Trump encontrou apoio unânime às tarifas sobre o aço e o alumínio importados pelos EUA, anunciadas por ele na semana passada e que têm o potencial de provocar uma guerra comercial mundial.

ESTELITA HASS CARAZZAI / WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) 

Membros do Partido Republicano, tradicional defensor do livre-comércio, vieram a público para se opor ao anúncio e tentar demover o presidente da ideia, que ainda não foi oficializada.

Nesta segunda-feira (5), a divisão se intensificou com os comentários do líder do governo na Câmara, Paul Ryan, que afirmou estar “extremamente preocupado com as consequências de uma guerra comercial”.

Ele pediu à Casa Branca para não levar a proposta de sobretaxa adiante.

“Estou pedindo a ele que limite a proposta, exclua alguns produtos”, afirmou o deputado republicano Kevin Brady, presidente de um comitê da Câmara que avalia a política comercial americana. “Eu não estou muito satisfeito”, comentou o senador Pat Roberts, do Kansas, estado de base agrícola e que teme represálias aos produtores dos EUA.

Trump tem autonomia para impor as tarifas: normalmente, elas são uma prerrogativa do Legislativo, mas nesse caso foram fundamentadas na proteção da segurança nacional dos EUA. Por isso, cabem exclusivamente ao presidente, conforme estabelece uma lei aprovada em 1962, na Guerra Fria.

Líderes republicanos fizeram correr um abaixo-assinado na Câmara, pedindo que as tarifas se apliquem apenas a produtos que caracterizem concorrência desleal, e não a toda a importação de aço ou alumínio.

É esse também o pleito do Brasil, segundo maior exportador de aço aos EUA, que ainda tenta negociar exceções à medida.

Os Estados Unidos são o maior importador de aço do mundo e um dos maiores de alumínio. A maior parte do material alimenta as fábricas do país, como no setor de petróleo e automotivo.

CONTROVÉRSIA
Trump anunciou as tarifas bem ao seu estilo: de improviso, surpreendendo a equipe, em resposta à pergunta de um repórter ao fim de uma reunião com empresários americanos, na quinta-feira (1º).

“Serão de quanto?”, perguntou um repórter. “25% para aço e 10% para alumínio. E vai ser por um bom período de tempo”, afirmou Trump. Os detalhes podem ser anunciados nesta semana.

Parte da equipe econômica do presidente se opunha à medida. Trump, eleito com a promessa de colocar a “América em primeiro lugar”, afirmou que iria recuperar as indústrias americanas de aço e alumínio. Para ele, as tarifas vão gerar empregos no setor -uma fatia de seu eleitorado.

O Departamento do Comércio argumenta que a medida está relacionada à segurança nacional, por proteger o fornecimento de insumos essenciais à área de defesa.

A preocupação dos republicanos, porém, é que as tarifas causem retaliações comerciais de outros países. Nesta segunda, Trump, porém, disse que não vai recuar.

Sobre os comentários dos líderes republicanos, a Casa Branca informou que o presidente Trump fará o que for preciso para proteger os trabalhadores americanos. “Nem sempre é preciso concordar em tudo.”

Tarifa é ruim até para os EUA, diz Ilan
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou nesta segunda-feira que a taxação pelos Estados Unidos sobre aço e alumínio importados seria uma medida negativa de maneira geral, afetando inclusive os próprios norte-americanos.

“Não há um cálculo específico, mas se sabe que é prejudicial não só ao Brasil, mas ao mundo todo. Uma guerra tarifária, protecionismo no mundo todo. Comércio no mundo diminuindo vai ter impacto em todo o mundo, isso afeta o Brasil no final das contas. Acho que é ruim inclusive para os Estados Unidos”, afirmou Ilan em entrevista à rádio CBN.

“O que acontece é que vai ter preços mais caros, tudo vai ter uma tarifa a mais”, acrescentou.

O presidente do BC avaliou, por outro lado, que os Estados Unidos podem desistir da investida diante da forte reação negativa e da ameaça de retaliação por outras nações.

Nesta manhã o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aparentemente sugeriu que o Canadá e o México poderão ser isentos das planejadas tarifas sobre as importações de aço e alumínio se os dois países assinarem um novo acordo comercial do Nafta e tomarem outras medidas.

Na semana passada, Trump afirmou que os EUA aplicariam uma taxa de 25 por cento sobre o aço importado e de 10 por cento sobre o alumínio para proteger os produtores nacionais, anúncio que chocou parceiros comerciais, alarmou líderes da indústria e deteriorou os mercados acionários.

No Brasil, o Ministério da Indústria e Comércio Exterior publicou nota apontando que o país deverá recorrer se a decisão de Trump for confirmada.

“O governo brasileiro não descarta eventuais ações complementares, no âmbito multilateral e bilateral, para preservar seus interesses no caso concreto” dos produtos brasileiros serem incluídos na medida de proteção comercial norte-americana, afirmou o ministério em nota.