Os números são aterradores e todos os jornalões os repercutiram: 66 milhões de brasileiros e de brasileiras em idade de trabalhar (excluindo-se na população os muitos jovens e os muitos velhos) estão fora do mercado de trabalho por desemprego, por desalento ou por subutilização.
Essa é a raiz profunda do ambiente de desespero e de crise que vem tomando conta da sociedade, desespero que se ramifica em violência, em banditismo, em desesperança, em desprezo às eleições e à política e em histeria nas redes sociais; crise que se prolonga sem que se veja seu fim.
O movimento sindical dos trabalhadores não poderia passar incólume por esta situação grave que, para ele, é potencializada pela agressão que sofre com a lei trabalhista celerada (em particular com os seus efeitos nefastos sobre a representação e os recursos sindicais) e pelas deficiências que apresenta com sua timidez em garantir unidade e a agenda prioritária.
O quadro dantesco na sociedade é o principal fator da crise sindical, confirmando o ditado de que o pior é pior mesmo, sem nenhuma alternativa messiânica do “quanto pior, melhor”.
A lei celerada agrava sobremaneira o quadro, porque desarticula a própria capacidade de resistência sindical.
Some-se a estes dois poderosos demônios, as ilusões que anestesiaram o movimento, a incapacidade de ação preventiva quanto às suas diabruras e o “berço esplêndido” em que se aninhava confortável no período de vacas gordas.
Que fazer, agora?
Em primeiro lugar lutar junto com os trabalhadores para resistir ao desmanche, eles de seus empregos e dignidade e o movimento para garantir sua própria existência.
Para tanto é preciso unidade em defesa dos 22 pontos da agenda prioritária, em especial a luta pela retomada do desenvolvimento com a criação de empregos formais e a resistência feroz à aplicação da lei nos acordos e convenções.
O movimento sindical, com o que lhe resta de protagonismo, deve participar ativamente das eleições escolhendo aliados capazes de vitória para garantir nos executivos e legislativos uma mudança, por mínima que seja na correlação de forças que nos tem sido desfavorável em todos os seus aspectos.
João Guilherme Vargas Netto, consultor de entidades sindicais de trabalhadores