Brasil é o 4º colocado mundial na quantidade de trabalhadores que poderiam ser substituídos por máquinas até 2066
Consultoria prevê que, no mundo, máquinas podem substituir 50% dos empregos, inclusive em serviços intelectuais
Natalia Portinari
O Brasil é um dos países com maior potencial de automatização de mão de obra, atrás apenas de China, Índia e Estados Unidos na quantidade de trabalhadores que poderiam ser substituídos por máquinas.
De acordo com estudo da consultoria McKinsey, 50% dos atuais postos de trabalho no Brasil poderiam ser automatizados, ou 53,7 milhões de um total de 107,3 milhões.
O setor com maior percentual de empregos automatizáveis no Brasil é a indústria, com 69% dos postos. Em seguida, ficam hotelaria e comida (63%) e transporte e armazenamento (61%).
“Todos os países estão passando por redução de empregados na indústria e migração para os serviços”, afirma Bruno Ottoni, pesquisador de economia aplicada do FGV/Ibre (Instituto Brasileiro de Economia). “A fronteira dos serviços vai demorar mais a ser cruzada, já que os postos são mais qualificados”, diz.
China e Índia têm, juntas, 700 milhões de postos que poderiam ser cortados.
A consultoria não prevê quantos postos serão criados com tecnologia nos próximos anos, mas fala de uma reestruturação do ambiente de trabalho, semelhante à revolução verde na agricultura, na metade do século 20.
Para Ottoni, as previsões não necessariamente levam em conta as dificuldades de replicar em larga escala as novas tecnologias. “São barreiras culturais. Como um robô do Google vai dirigir em uma estrada esburacada do Rio de Janeiro?”, afirma.
O estudo considera que máquinas são boas em reconhecer padrões, otimizar e planejar ações, recuperar informação e executar ações motoras que não exijam muita sensibilidade ou destreza.
Cerca de 60% das profissões poderiam ter ao menos 30% de suas atividades automatizadas, de acordo com essa premissa.
Não são apenas trabalhos braçais —presidentes executivos e banqueiros correm risco, assim como lojistas, agentes de viagens, costureiros e relojoeiros. Já legisladores e psiquiatras são as profissões com menor chance de serem automatizadas.
O relatório foi feito com base em dados de 54 países, representando 78% do mercado de trabalho mundial.
Os empregos que podem ser substituídos têm um custo de US$ 89 bilhões por ano no Brasil (R$ 275 bilhões) e US$ 14,6 trilhões no mundo (R$ 45,2 trilhões), equivalente a 1,2 bilhão de trabalhadores, metade da força de trabalho mundial.
O estudo estima que, entre 2036 e 2066, deve-se chegar a metade dessas substituições. A produtividade mundial pode, consequentemente, aumentar de 0,8% a 1,4% no mesmo período.
As substituições dependem de as tecnologias se tornarem mais baratas que a mão de obra, do dinamismo do mercado e da “aceitação social”, segundo o estudo.
Em 2016, o Fórum Econômico Mundial estimou que a automatização poderá causar a perda no mundo de 7,1 milhões de empregos de 2015 a 2020, mas gerar, em compensação, 2 milhões de postos.
No mesmo ano, um estudo do Citibank, com dados do Banco Mundial, concluiu que 57% dos postos poderiam ser substituídos por máquinas nos 35 países da OCDE.