No 12º corte seguido, BC baixa juro para 6,5% ao ano, novo piso histórico
Taxa é a menor de toda a série histórica do Banco Central, que começou em 1986. Em nota, Copom sinalizou a possibilidade de novo corte na Selic na próxima reunião, em maio.
Alexandro Martello e Yvna Sousa, G1 e TV Globo, Brasília
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou nesta quarta-feira (21) a redução da taxa básica de juros da economia brasileira de 6,75% ao ano para 6,5% ao ano.
Foi o 12º corte consecutivo na Selic. A taxa de 6,5% ao ano é a menor desde a adoção do regime de metas para a inflação, em 1999, e também de toda a série histórica do BC, iniciada em 1986.
A decisão confirma a previsão da maior parte dos economistas do mercado, colhida pelo próprio BC na semana passada. Ela também afeta o rendimento das cadernetas de poupança. (Leia mais abaixo)
Em comunicado, o Copom sinalizou que pode fazer uma nova redução moderada da taxa básica de juros na próxima reunião, em 16 de maio. O novo corte viria para garantir que seja alcançada, ao final do ano, a meta de inflação de 4,5%.
A possibilidade de novo corte contraria a expectativa dos analistas, que esperavam que a reunião desta quarta colocasse fim ao atual ciclo de redução da Selic, iniciado em 2016.
“A evolução do cenário básico tornou adequada a redução da taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual nesta reunião. Para a próxima reunião, o comitê vê, neste momento, como apropriada uma flexibilização monetária moderada adicional [novo corte na Selic. O Comitê julga que este estímulo adicional mitiga o risco de postergação da convergência da inflação rumo às metas”, informou o Copom na comunicado.
Por outro lado, o Copom informou que, se a economia evoluir como o previsto, não serão necessários cortes adicionais na Selic nas reuniões seguintes à de maio.
“Para reuniões além da próxima, salvo mudanças adicionais relevantes no cenário básico e no balanço de riscos para a inflação, o Comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária, visando avaliar os próximos passos, tendo em vista o horizonte relevante naquele momento”, diz o texto.
A taxa definida pelo BC influencia nos juros praticados pelos bancos. Entretanto, apesar de a Selic estar na mínima histórica, os juros bancários seguem elevados. Em janeiro (último dado disponivel), as taxas do cheque especial e do cartão de crédito rotativo estavam acima de 300% ao ano.
Como as decisões são tomadas
A definição da taxa de juros pelo BC tem como foco o cumprimento da meta de inflação, fixada todos os anos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Para 2018, a meta central de inflação é de 4,5%. Para 2019, é de 4,25%. O sistema, porém, prevê uma margem de tolerância, para cima e para baixo. Isso significa que a meta não seria descumprida pelo Banco Central caso a inflação neste ano ficasse entre 2,5% e 6,5%.
Normalmente, quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. A expectativa é que a subida da taxa também eleve os juros cobrados pelos bancos, ou seja, que o crédito fique mais caro e, com isso, freie o consumo, fazendo a inflação cair. Essa medida, porém, afeta a economia e gera desemprego.
Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas predeterminadas pelo CMN, o BC reduz os juros. É o que está acontecendo neste momento. Para 2018 e 2019, o mercado estima um IPCA de 3,63% e de 4,20%, respectivamente.
Comparação com outros países
Com a redução de juros promovida pelo Copom nesta quarta, o Brasil permaneceu no quinto lugar no ranking mundial de juros reais (calculados com abatimento da inflação prevista para os próximos 12 meses), compilado pelo MoneYou e pela Infinity Asset Management.
Com os juros básicos em 6,5% ao ano, a taxa real do Brasil soma 2,89% ao ano, atrás da Argentina (6,04% ao ano), Turquia (5,31% ao ano), Rússia (3,68% ao ano) e México (3,66% ao ano).
Rendimento da poupança
As decisões do Banco Central sobre a Selic também afetam o rendimento da poupança, que vai cair novamente a partir desta quarta-feira. A regra atual, em vigor desde maio de 2012, prevê corte nos rendimentos da poupança sempre que a Selic estiver abaixo de 8,5% ao ano.
Nessa situação, a correção anual das cadernetas fica limitada a um percentual equivalente a 70% da Selic, mais a Taxa Referencial, calculada pelo BC. A norma vale apenas para depósitos feitos a partir de 4 de maio de 2012.
Com a nova queda dos juros, desta vez para 6,50% ao ano, a correção da poupança passará a ser de 4,55% ao ano, mais Taxa Referencial.
Mesmo assim, segundo cálculos da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a poupança continuará sendo uma “excelente opção de investimento, principalmente sobre os fundos cujas taxas de administração sejam superiores a 1% ao ano”.