BC inicia ciclo de aperto monetário com ´cautela´

Claudia Safatle e Alex Ribeiro | De Brasília

Numa decisão esperada, mas dividida e controversa, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou ontem a taxa Selic para 7,50% ao ano. Não houve unanimidade para o início de um novo ciclo de aperto monetário. Foram seis votos a favor, mas dois diretores do Banco Central optaram pela manutenção da taxa em 7,25% – Aldo Luiz Mendes, de Política Monetária, e Luiz Awazu Pereira da Silva, da Área Internacional.

O comunicado explicitou o dilema que marcou a decisão. “O comitê avalia que o nível elevado da inflação e a dispersão de aumentos de preços, entre outros fatores, contribuem para que a inflação mostre resistência e ensejam uma resposta da política monetária. Por outro lado, o Copom pondera que incertezas internas e, principalmente, externas cercam o cenário prospectivo para a inflação e recomendam que a política monetária seja administrada com cautela”.

Era preciso dar uma resposta à inflação persistente, disseminada e que já começa a preocupar a opinião pública. Ao mesmo tempo, a piora das condições externas nos últimos dias pode trazer uma onda de desinflação para as economias emergentes. Os preços das commodities caíram 13% em relação ao pico de setembro. Os mercados, que viam uma reação da economia americana que não se materializa, temem agora que o crescimento da China caia para a casa dos 6%, após os dados da atividade econômica do primeiro trimestre. O cenário na zona do euro é inquietante e o presidente do BC alemão, Jens Weidmann, ontem admitiu poder reduzir a taxa de juros na Europa.

Entre esperar mais um pouco e agir ontem mesmo, o Copom optou por um aumento pequeno, simbólico. Mostrou que a mudança na comunicação do BC, a partir de janeiro, não era um fim em si e evoluiu para uma ação concreta, a despeito de eventuais pressões políticas em contrário.