BC sobe juros para 10,75%; taxa real é a maior do mundo

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu nesta quarta-feira aumentar a taxa básica de juros (a Selic) em 0,5 ponto percentual. A Selic passou de 10,25% para 10,75% ao ano. É a maior taxa desde março do ano passado, quando estava em 11,25%.

JUROS REAIS EM PAÍSES SELECIONADOS
(Descontada a inflação)
PAÍS      TAXA
1) Brasil 5,6%
2) China 2,3%
3) Rússia 1,8%
29) EUA -0,9%
31) Argentina -1,0%
40) Venezuela -10,0%

Fontes: Jason Vieira/Thiago Davino

Com a decisão, o Brasil continua com os maiores juros reais do mundo. Os juros reais descontam a inflação projetada para os próximos 12 meses. Fazendo essa conta, os juros básicos no Brasil ficam em 5,6% ao ano. Em segundo, vem a China, com taxa real de 2,3%. Em terceiro, está a Rússia, com 1,8%.
Os dados sobre juros reais são coletados pelo analista internacional da Apregoa.com – Cruzeiro do Sul, Jason Vieira, com a colaboração do analista de mercado da Weisul Agrícola, Thiago Davino.
A pesquisa de juros reais não inclui todos os países do mundo, mas 40 economias relevantes.
O país com menor taxa nesse ranking é a Venezuela, com -10% de juros reais ao ano.

Impacto para as pessoas
A Selic é a taxa básica de juros. Ela baliza os juros cobrados quando se parcela uma compra ou se pede dinheiro emprestado no banco.
Se os juros básicos aumentam, as lojas fazem o mesmo com o crediário. Quando a Selic chega ao consumidor, está muito maior.
Enquanto a taxa básica está entre 10% e 11% ao ano, os juros cobrados no comércio, quando se compra uma televisão a prazo, por exemplo, são quase dez vezes superiores. Nas lojas, os juros do creditário chegam a 98,5%, segundo a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).
“Nessa conta, os bancos incluem o compulsório [dinheiro que os bancos são obrigados a deixar no Banco Central], impostos, inadimplência e lucro”, diz o consultor financeiro Renato Roizenblit.

Razões para subir
Os juros são usados como política monetária pelo governo para conter a inflação. Com juros altos, as prestações ficam mais caras e as pessoas compram menos, o que restringe o aumento dos preços.
O receio do governo é que haja muitas compras, e as indústrias não consigam produzir o suficiente. Quando isso acontece, há falta de produtos no mercado, e os que existem ficam mais caros.
Um aspecto positivo dos juros altos é que eles remuneram melhor as aplicações. Isso é bom para os investidores brasileiros e também para os estrangeiros, que procuram o país. Quando alguém investe em fundos ou títulos, recebe mais rendimentos por mês se os juros estiverem mais altos.
Por outro lado, os juros altos prejudicam as empresas, que ficam mais cuidadosas para tomar empréstimos e fazer expansões. Por causa disso, o emprego também não cresce tanto. É em razão desse efeito que os empresários reclamam contra os juros altos.
O Copom foi instituído em junho de 1996 para estabelecer as diretrizes da política monetária e definir a taxa de juros.
O colegiado que tem direito a voto é formado por oito integrantes: o presidente do BC, Henrique Meirelles, e mais os diretores das seguintes áreas: Política Monetária, Normas e Organização do Sistema Financeiro, Fiscalização, Administração, Liquidações e Controle de Operações do Crédito Rural, Política Econômica, e Assuntos Internacionais.

(Com informações de Anne Dias e Reuters)