Do Rio
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e social (BNDES) deve liberar mais de R$ 6 bilhões para financiamento de projetos no setor de logística até o fim de 2012. Isso significará um crescimento de 30% sobre o volume aplicado no ano passado. Até outubro, o banco registrava R$ 4,3 bilhões liberados, alcançando em dez meses quase o valor total realizado no ano passado.
O setor de logística passa por uma transformação importante, direcionada pelo governo que pretende reduzir o peso do modal rodoviário na matriz de transportes do país e ampliar o ferroviário, explica Cleverson Aroeira da Silva, chefe do departamento de logística do BNDES. A carteira do banco já destina mais recursos para os projetos ferroviários do que para os rodoviários.
Segundo Silva, o banco que sempre apoiou os investimentos privados das concessionárias (rodoviárias e ferroviárias) tem visto crescer a participação dos operadores logísticos entre os candidatos a crédito como resultado dessa transformação. Os novos “players” têm sido importantes para ampliar o movimento de integração na cadeia logística, principalmente na área de grãos e açúcar. A participação do frete rodoviário nessa cadeia ainda é predominante, enquanto a expansão do modal ferroviário – mais barato e menos poluente – está restrita às grandes empresas produtoras de um lado e concessionárias de outro.
Com a entrada dos operadores logísticos, produtores de menor porte que só usavam caminhões passam a contar com essas empresas que oferecem serviços como terminais de armazenagem de transbordo (recebe carga de modal rodoviário e coloca em composição ferroviária) aos quais pequenos e médios produtores não tinham acesso por falta de escala.
“Os operadores logísticos concentram a carga de vários pequenos produtores nos terminais e com isso eles conseguem acesso a um transporte mais barato para escoar sua produção”, explica Silva. Como resultado da maior atividade dos operadores, tem havido uma demanda maior no banco para financiamento de projetos dessas empresas.
A carteira de logística como um todo é a segunda em que o banco mais investe, depois de energia, e tende a crescer. “É possível que a carteira de logística supere a de energia nos próximos anos devido às perspectivas de crescimento dos investimentos do banco no setor, estimado em 25% ao ano nos próximos quatro anos”.
O crescimento a que Silva se refere está baseado nos investimentos federais em obras relacionadas ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e na demanda crescente por parte dos operadores logísticos. Os dois movimentos estão relacionados, explica o executivo do banco. Os investimentos do governo em portos, aeroportos, rodovias e ferrovias estimulam o aumento dos investimentos privados em diferentes regiões.
“Antes você tinha uma matriz concentrada em rodovias, a intenção do governo é aumentar a participação de ferrovias e hidrovias”, diz o executivo do BNDES, frisando que essa estratégia não significa uma redução no espaço das rodovias, que continuam como principal modal de transporte. “O cerne dessa estratégia é aumentar a malha rodoviária, abrindo ao mesmo tempo o acesso a um frete mais barato e a um modal mais limpo a um número maior de produtores.”
Pelos cálculos do banco, entre 2013 e 2016 as obras do PAC vão gerar investimentos em torno de R$ 158 bilhões, dos quais o BNDES vai participar com cerca de R$ 40 bilhões. O “funding” dessas operações é o tradicional, recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), do Tesouro Nacional e as captações internas e externas que o banco faz normalmente.
Porém, com o crescimento do mercado de logística, o BNDES aposta em uma diversificação do “funding” nos próximos anos e um dos novos instrumentos são as debêntures de infraestrutura, que recentemente ganharam uma nova lei e regulamentação específicas. A expectativa é que os projetos de logística e energia apoiados pelo banco sejam financiados em parte com a emissão destes papéis.
De acordo com o volume de projetos em andamento e alguns em análise, o banco estima que as empresas de logística e energia consigam captar cerca de R$ 10 bilhões em debêntures até o fim de 2012. (J.R.)