Argumento será apresentado até o fim da semana que vem para tentar ficar isento da sobretaxa do aço
Gabriela Valente
BRASÍLIA — Com receio de perder espaço para o Canadá no mercado americano, Brasil pedirá aos Estados Unidos para também ser excluído da lista de países que serão sobretaxados com uma alíquota de 25% nas vendas de aço. O argumento que deve ser apresentado pelos técnicos do Ministério da Indústria é que a empresa brasileira não é uma ameaça à segurança nacional. Ao contrário, eles devem frisar que o Brasil compra carvão americano para produzir o aço e também importa os produtos prontos de volta e que, por isso, a balança de comércio do setor é favorável aos americanos. O documento deve ser enviado até o fim da semana que vem.
Nele, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, o Brasil argumentará que as indústrias brasileiras e americana são complementares. E, por isso, o país não deveria fazer parte do rol de nações que serão punidas pela medida protecionista do governo Donald Trump.
O prazo para a manifestação do governo brasileiro termina na sexta-feira da semana que vem. Nos bastidores, os técnicos da área comercial do Brasil tentam destrinchar a medida para contra argumentar à altura.
Enquanto Brasília prepara o recursos, a embaixada do Brasil está em contato com o departamento de comércio americano. Como O GLOBO revelou no fim de semana, o governo brasileiro só vai entrar na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a, após esgotadas todas as tentativas de um acordo bilateral que exclua o Brasil dessa medida protecionista. Há a possibilidade de negociações em outras áreas.
No entanto, o Brasil não deve ser proativo e oferecer nenhum benefício no início da negociação. A ideia é tentar ver se há a exclusão. Caso contrário, a orientação é aguardar as demandas do governo americano.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) acompanha com apreensão essa negociação. A preocupação é perder espaço para o Canadá, que é o principal fornecedor de aço para os Estados Unidos e não está na lista de países que sofrerão a sobretaxa.
— Provavelmente, o Canadá vai tomar nossa fatia do mercado, mas ainda não sabemos em que percentual — alertou Diego Bonomo, gerente-executivo da Unidade de Assuntos Internacional da CNI.
Ele lembra que somente no ano passado, o Brasil exportou US$ 3 bilhões para o país de Dolnald Trump. E ressalta ainda que a postura do presidente americano pode ter desdobramentos sobre todo o comércio mundial.
Ao contrário do ex-presidente George W. Bush, Trump não usou leis modernas e alinhadas com a OMC para a medida protecionista, mas recorreu a uma antiga legislação de segurança nacional que, para a CNI, é incompatível com as regras da Organização Mundial do Comércio.
— É uma decisão política, que o governo americano sabe que está tomando contra as regras de comercio internacional — falou Bonomo. E foram regras que os Estados Unidos que ajudaram criar.
Essa afronta à OMC é vista com suspeitas e pode interferir nos futuros passos do Brasil. Para Bonomo, não há garantias de que se o país entrar na OMC, os Estados Unidos acatarão a decisão. Se isso ocorrer, poderia levar o mundo a uma guerra comercial sem proporções porque outros países poderiam começar a impor barreiras e sanções em outros tipos de produtos.
— Corre o risco de entrar numa espiral de entrar um contra o outro. Podemos ter uma guerra comercial. Hoje, estamos limitados a um setor, mas podemos entrar numa espiral sem controle.