Em 20 anos, caiu de 51,5% para 16% a proporção de empregadas com até 29 anos; de 1995 para 2015, renda das domésticas cresceu 64%
O trabalho doméstico atrai cada vez menos mulheres jovens no País. A proporção de empregadas domésticas com até 29 anos caiu 35,5 pontos porcentuais em 20 anos: de 51,5% em 1995 para 16% em 2015. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira, 6, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O fenômeno foi atribuído ao aumento na escolaridade da população jovem e à ampliação das oportunidades em outras áreas, como serviços prestados a empresas e às famílias. “Ninguém nasce com o sonho de ser empregada doméstica. Essas meninas tiveram acesso aos estudos. Houve um movimento no Brasil em que houve oportunidade de se colocarem em postos de trabalho como o de serviços prestados a empresas. Isso acabou evitando que entrassem no serviço doméstico, foi a melhora da educação e a oportunidade de se empregar em outro setor”, explica Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
O pesquisador Tiago Barreira, do Centro de Pesquisa Econômica Aplicada Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), lembra que o acesso ao ensino médio avançou justamente nas últimas duas décadas.
“Foi uma época em que a população foi aos poucos se instruindo ao longo dos anos. O ensino médio começou a caminhar para uma universalização, o acesso ao ensino superior também avançou nas camadas mais pobres, devido a políticas de estímulo, como o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil, do governo federal). Os jovens acabaram procurando outros empregos”, avalia Barreira. “Com a crise e o desemprego, elas estão voltando ao trabalho doméstico”, completa Azeredo.
A renda das domésticas saltou 64% nesses 20 anos, atingindo valor médio de R$ 739 em 2015. Ainda assim, o rendimento médio ficou abaixo do salário mínimo da época, de R$ 788.
“Tem um movimento que acompanha a valorização do salário mínimo, o aumento da renda da população ocupada como um todo. Isso aconteceu também para as trabalhadoras domésticas. Só que ainda assim no último ano da série, em 2015, a média do Brasil não alcança nem o salário mínimo”, observa Natália Fontoura, técnica de planejamento e pesquisa do Ipea.
O número de trabalhadoras formais também cresceu. Em 1995, 17,8% das empregadas domésticas tinham carteira assinada. Em 2015, chegou a 30,4%.
A análise dos dados sinaliza ainda uma tendência de aumento na quantidade de diaristas no País. Em 1995, empregadas que trabalhavam por diária eram 18,3% da categoria. Em 2015 eram 31,7%.
“Quando elas se tornaram mão de obra escassa, o salário disparou. Em tempos de crise, nem todo mundo pode ter empregada todo dia, então negocia com a doméstica para que trabalhe duas vezes na semana. Isso é uma forma de negociar salário e evitar o vínculo empregatício previsto na lei”, diz Azeredo.
Renda. O emprego doméstico era a ocupação de 18% das mulheres negras e de 10% das mulheres brancas em 2015. Em 20 anos, a renda média das mulheres negras cresceu oito vezes mais que o ganho médio dos homens brancos, mas foi insuficiente para cobrir o abismo que há entre as duas realidades financeiras. Em 2015, na média, um homem branco ganhava R$ 2.509,70, mais que o dobro do rendimento médio de uma mulher negra, de R$ 1.027,50.
“A desvantagem das mulheres negras é muito pior em muitos indicadores, no mercado de trabalho em especial, mas também na chefia de famílias, na pobreza. É quando as desigualdades de gênero e desigualdades raciais se sobrepõem no nosso País”, diz Natália.
As distâncias entre os quatro principais grupos populacionais considerando cor e gênero não se alteraram muito. A ordem da desigualdade de renda também se mantém. Homens brancos ganham mais, seguidos de mulheres brancas, homens negros e mulheres negras.