Valor Econômico
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, abandonou ontem às pressas a conferência Rio + 20, voando para Buenos Aires às 18 horas, segundo a agência oficial Telam. A partir de hoje, Cristina deve reagir à demonstração de força dada nas últimas 48 horas pelo presidente da central sindical CGT, Hugo Moyano, que comanda o sindicato dos caminhoneiros por meio de seu filho, Pablo Moyano.
Moyano, que tenta se reeleger à frente da central sem o apoio da Casa Rosada, determinou uma greve do transporte de combustíveis no país. Na semana passada, sem o mesmo sucesso, o sindicalista tentou paralisar o transporte de valores, para desabastecer o sistema financeiro. Desta vez, o governo argentino acusou o golpe.
Segundo balanço feito à imprensa pelo ministro do Interior, Florencio Randazzo, já há desabastecimento no país de gás liquefeito de petróleo (GLP). Randazzo afirmou que hospitais estão sendo obrigados a utilizar calefação elétrica e mencionou a possibilidade do transporte coletivo ser atingido a partir de hoje.
O conceito de “caminhoneiros” no universo sindical argentino é amplo: abarca não apenas o transporte de cargas, mas qualquer serviço que não envolva o deslocamento de passageiros, como o de coleta de lixo, serviços de entregas rápidas, transporte de valores, transporte de alimentos, entre outros. Dentre as principais categorias do sindicalismo, o sindicato de Moyano foi o único a exigir nas negociações coletivas um reajuste com ganhos reais evidentes, que superam em muito a inflação extra-oficial, estimada em 25%.
O sindicalista pede 30% de reajuste e um abono correspondente ao desconto de imposto de renda do caminhoneiro. Atualmente, a remuneração mínima dessa categoria no país é de 7 mil pesos, ou cerca de R$ 3,5 mil. O setor patronal ofereceu 21% em três vezes.
Se conseguir o que exige, Moyano terá superado os 24% obtidos pelo setor da construção civil e os 23% pelos metalúrgicos. Também estará à frente dos 27% alcançados pelos trabalhadores de bares, restaurantes e hotéis. Os choferes de ônibus obtiveram 18% e um abono de mil pesos, e o funcionalismo público federal ficou em 21%.
Todas essas categorias apoiam a eleição para a presidência da CGT do metalúrgico Antonio Caló. Com a radicalização, Moyano pode cindir a CGT após o congresso de 12 de julho, caso não possa mais comandar a central. “Este seria o pior cenário para o governo, porque poderia levar o setor moderado a também entrar em uma dinâmica de confronto”, opinou o cientista político Julio Burdman, da consultoria Analytica.
O governo cogita impor multas e até desconstituir juridicamente o sindicato. Moyano está rompido com Cristina desde a morte do ex-presidente Nestor Kirchner, em 2010, mas desde 1975 não há um embate direto entre a central sindical e um governo peronista.