Parte do mercado, que previa corte superior a 1 ponto, recuou após nova crise política. Selic cai ao menor nível em três anos e meio e Brasil deixa liderança do ranking mundial de juros reais.
Por Alexandro Martello, de Brasília
Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu reduzir a taxa básica de juros da economia brasileira pela sexta vez seguida nesta quarta-feira (31), de 11,25% para 10,25% ao ano.
Com a decisão de baixar a taxa Selic em um ponto percentual, o BC manteve o mesmo ritmo da reunião anterior, realizada em abril, e os juros recuaram ao menor patamar desde o início de 2014, ou seja, em três anos e meio.
Antes da crise política gerada pela delação de executivos da J&F, empresa que controla o frigorífico JBS, e que levou o Supremo Tribunal Federal (STF) a autorizar a abertura de inquérito para investigar o presidente Michel Temer, parte do mercado financeiro apostava em um corte maior na Selic, de 1,25 ponto percentual.
Porém, após o início da nova crise política, os analistas ajustaram suas apostas e passaram a prever, em peso, uma redução menor, para 10,25% ao ano – que se confirmou.
A previsão do mercado financeiro é que a taxa básica de juros da economia continue recuando nos próximos meses e chegue a 8,5% ao ano no final de 2017.
Sistema de metas
A definição da taxa de juros pelo BC tem como foco o cumprimento da meta de inflação, definida todos os anos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Normalmente, quando a inflação está em alta, o BC eleva a Selic na expectativa de que o encarecimento do crédito freie o consumo e, com isso, a inflação caia. Essa medida, porém, afeta a economia e gera desemprego.
Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas predeterminadas pelo CMN, o BC reduz os juros. É o que está acontecendo agora.
Em razão do fraco nível de atividade, a inflação está bem comportada. Nos primeiros quatro meses deste ano, segundo o IBGE, a inflação oficial (medida pelo IPCA) ficou em em 1,1%, menor índice para o período desde o início do Plano Real. Em doze meses, somou 4,08%, o menor valor em 10 anos.
Para 2017, o mercado financeiro prevê que a inflação deve ficar em 3,95%, abaixo da meta de 4,5% fixada pelo CMN para este ano. A meta central de inflação não é atingida no Brasil desde 2009. À época, o país sentia os efeitos da crise financeira internacional de forma mais intensa.
Ranking de juros reais
Com a redução de juros promovida pelo Copom nesta quarta-feira, o Brasil saiu da liderança do ranking mundial de juros reais (calculados com abatimento da inflação prevista para os próximos 12 meses), compilado pelo MoneYou e pela Infinity Asset Management.
Com os juros básicos em 10,25% ao ano, a taxa real do Brasil soma 4,30% ao ano. Com isso, fica atrás da Rússia, com juros reais de 4,57%, mas segue na frente dos demais países. Em terceiro lugar, ficou a Turquia, com uma taxa real de 3,63% ao ano. Nas 40 economias pesquisadas, a taxa média está negativa em 0,2% ao ano.
Rendimento da poupança
De acordo com cálculos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), mesmo com a redução dos juros para 11,25% ao ano, os fundos de investimento continuam mais atrativos e ganham da poupança na maioria das situações.
A poupança continua atrativa somente para fundos com taxas de administração acima de 2%. Isso ocorre porque o rendimento dos fundos de renda fixa sobe junto com a Selic. Já o rendimento das cadernetas, quando a taxa de juros está acima de 8,5% ao ano, como atualmente, está limitado em 6,17% ao ano mais a variação da Taxa Referencial (TR).
Analistas avaliam que o Tesouro Direto, programa que permite que pessoas físicas comprem títulos públicos pela internet, via banco ou corretora, sem necessidade de aplicar em um fundo de investimentos, também pode ser uma boa opção para os investidores. O programa tem atraído a atenção de aplicadores nos últimos anos.