Cerca de 146 milhões de pessoas fizeram alguma atividade não remunerada em 2017, 7 milhões a mais em um ano. Número de homens dedicados a afazeres domésticos cresceu mais que o de mulheres.
Por Daniel Silveira, G1 Rio
Enquanto o mercado de trabalho brasileiro atingiu os piores indicadores dos últimos anos em 2017, o país viu aumentar em 7 milhões o número de pessoas envolvidas em formas de trabalho não remunerado. É o que aponta uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (18) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Voluntários servem café da manhã a pessoas em situação de rua (Foto: Reprodução/RBS TV)
São quatro formas de trabalho não remunerado investigadas pelo instituto:
produção para próprio consumo;
cuidados de pessoas;
afazeres domésticos;
trabalho voluntário.
“Houve um aumento generalizado de todas essas outras formas de trabalho”, afirmou a analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, Alessandra Brito.
Formas de trabalho não remunerada
Total de pessoas (em milhão) dedicadas a outras formas de trabalho em 2017
Produção para o próprio consumo: 12,4
Cuidados de pessoas: 53,2
Afazeres domésticos: 142,3
Trabalho Voluntário: 7,3
A pesquisa mostra que, somadas as quatro formas de trabalho, em 2017 havia 146,3 milhões de pessoas se dedicando a pelo menos uma delas. No ano anterior este número era de 139,2 milhões. O aumento ocorreu em todas as grandes regiões do país.
O levantamento aponta que dentre as 7 milhões de pessoas que passaram a se dedicar ao trabalho não remunerado, 3,7 milhões tinham alguma ocupação no mercado, enquanto as outras 3,3 milhões estavam desocupadas. Além disso, revela que 4,4 milhões eram homens e 2,6 milhões mulheres.
Dentre as quatro formas de trabalho, a que mais registrou aumento na participação foi a de afazeres domésticos. Foram 6,8 milhões de pessoas a mais se dedicando a essas atividades, das quais 4,3 milhões eram homens e 2,5 milhões mulheres.
“As mulheres já faziam muito serviço doméstico. Nove entre cada dez mulheres já se dedicavam a algum afazer doméstico. Então, o grupo que tinha espaço para aumentar era o de homens, e efetivamente houve esse aumento”, explicou Alessandra.
A pesquisadora ponderou que a análise das outras formas de trabalho começou a ser feita pelo IBGE em 2016, por isso não há uma série histórica que ajude a compreender melhor as alterações ocorridas.
“Como a gente está comparando só dois anos, é um curto espaço de tempo para relacionar com alguma mudança estrutural relacionada à consciência dos homens [se passaram a colaborar mais com as mulheres em casa]. Também não podemos apontar que houve mudança conjuntural, já que a conjuntura [econômica] de 2016 para 2017 não ficou muito diferente”, destacou Alessandra.
Mais desocupados produzindo para consumo próprio
Dentre as quatro formas de trabalho não remunerado investigadas, somente a de produção para o próprio consumo registrou maior aumento da participação de pessoas não ocupadas. Havia no país, em 2017, 12,4 milhões de pessoas dedicadas a este tipo de atividade – 1,9 milhão a mais que no ano anterior. Deste contingente, 1,1 milhão estava sem ocupação no mercado de trabalho.
O IBGE considera a produção para o próprio consumo como sendo as atividades de produção voltadas ao uso exclusivo dos moradores do domicílio ou de parentes não moradores. Assim, não se enquadra neste tipo de atividade uma pessoa que, por exemplo, utiliza parte da produção de uma horta doméstica para consumo da família, mas vende a outra parte.
A pesquisadora Alessandra Brito ponderou que ao analisar o aumento na dedicação ao próprio consumo por grupos etários, observa-se que o crescimento ocorreu mais no grupo acima de 50 anos. Por isso, segundo ela, não se pode apontar relação com o desemprego.
“Essas pessoas [com mais de 50 anos que passaram a fazer produção para o próprio consumo] podem estar mais fora da força de trabalho [aposentadas, por exemplo], que desocupadas e procurando emprego”, avaliou.
O IBGE considera quatro atividades de produção para o próprio consumo. Aquelas relacionadas à alimentação são as que têm o maior número de pessoas envolvidas no país. O instituto pondera que produzir para o próprio consumo não caracteriza subsistência. Esta seria caracterizada somente se a família não tivesse nenhum meio de consumo distinto da própria produção, condição que a pesquisa não é capaz de analisar.