MARIANA HAUBERT – Folha de S.Paulo 08/12/2014 21h27 Em sinal de que pretende reabrir o diálogo com as centrais sindicais após ter sido criticada por seu afastamento, a presidente Dilma Rousseff se reuniu por cerca de duas horas com representantes da CUT (Central Única dos Trabalhadores), CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), UGT (União Geral dos Trabalhadores), NCST (Nova Central Sindical dos Trabalhadores), CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros) e Força Sindical nesta segunda-feira (8) no Palácio do Planalto. Durante a reunião, os sindicalistas demonstraram preocupação com o atraso de pagamentos e indenizações trabalhistas a trabalhadores contratados por empresas prestadoras de serviço para a Petrobras. “Demonstramos nossa grande preocupação com as obras que a Petrobras contratou e as empresas [contratadas] começaram a não pagar salários para os trabalhadores. Então essa crise da Petrobras está chegando nos assalariados, está chegando nos trabalhadores que são aqueles que mais precisam. Essa é uma grande preocupação que ainda está localizada mas é uma preocupação que a própria presidente se comprometeu a ver o que pode fazer”, afirmou o presidente da Força Sindical, Miguel Torres. Segundo Torres, a estatal deixou de pagar por algumas obras há quase um ano e agora as empresas contratadas não estão pagando os salários de seus funcionários. Um dos exemplos citados por Torres é o da empresa Alusa, que atua na obra da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. Segundo Torres, há dois meses ela não paga salários. “Mil trabalhadores foram demitidos e não receberam seus direitos e outros cinco mil pediram demissão coletiva porque não recebem salário há dois meses”, disse. Segundo Torres, Dilma afirmou que ia discutir a questão com a Petrobras mas, ressaltou que o que se refere à empresa está sendo tratado com “muitos cuidados”. A presidente teria dito ainda que a situação é uma “grande injustiça” com os operários. Uma das sugestões para resolver o impasse apresentada durante a reunião pelos sindicatos, foi determinar que a Petrobras repasse o valor dos salários para a Justiça do Trabalho, que ficaria responsável por fazer o pagamento direto aos funcionários. “Não queremos que se livre a culpa de ninguém. Quem tiver que ser punido, que seja punido. Mas os trabalhadores não podem pagar essa conta”, afirmou Torres. REAPROXIMAÇÃO Durante a reunião, Dilma se comprometeu com as demandas trabalhistas e mostrou interesse por formalizar um grupo de negociação permanente. Para Torres, o convite feito pelo governo para o encontro surpreendeu os sindicalistas. “Esperávamos que a reunião fosse realizada em janeiro mas fomos surpreendidos pelo convite agora. A reunião em si não tinha uma pauta programada mas foi importante para retomar o diálogo com o governo, que deve ser permanente. Achamos a conversa positiva”, disse. IMPOSTO DE RENDA Uma das demandas é a correção da tabela do Imposto de Renda para que seja calculada em cima da inflação real. “Atualmente, se usa o valor do centro da meta, de 4,5%, mas queremos que seja calculado em cima do valor real, que já chega a 6,5%. Muitos trabalhadores não querem receber aumento para não mudar de faixa no pagamento do Imposto de Renda”, disse Torres. De acordo com o sindicalista, Dilma se comprometeu a negociar com o Congresso a edição de uma medida provisória ainda neste ano para corrigir a tabela do Imposto de Renda da pessoa física. No entanto, a presidente não se comprometeu a incluir a revisão com base na inflação real. “Não tem essa garantia. Ela [Dilma] disse que vai editar a MP mas não necessariamente [com a correção] pelo valor real”, afirmou Torres. Ainda assim, as centrais sindicais ficaram satisfeitas com a promessa. A equipe econômica do governo, que pretendia incluir a correção em outra medida provisória já em tramitação no Congresso, pretende optar pela nova MP para assegurar sua aprovação no Legislativo em 2015. A correção na tabela do Imposto de Renda foi anunciada pela presidente ao longo da campanha eleitoral. A expectativa de congressistas é que a correção seja mantida em 4,5%, embora o governo tenha sinalizado que poderia ser igual à inflação. FATOR PREVIDENCIÁRIO A outra reivindicação dos sindicatos é o fim do fator previdenciário, índice que reduz o benefício de quem se aposenta cedo. De acordo com Torres, Dilma demonstrou interesse em discutir o tema no ano que vem mas não indicou nenhuma ação concreta no curto prazo. |
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