Antes mesmo do curto período que precede o 10 de agosto, dia nacional de luta e em que os partidos têm a obrigação legal de realizarem suas convenções, alguns sindicatos, centrais sindicais e o Dieese têm recebido, a convite, candidatos à presidência da República para ouvir suas propostas e apresentar-lhes a nossa pauta (a poderosa Confederação Nacional da Indústria para fazer o mesmo conseguiu reunir vários deles em sessão contínua).
Cito como exemplos o sindicato dos metalúrgicos de São Paulo e o sindicato dos engenheiros do Estado, sendo que este último apresenta-lhes a versão atual de seu “Cresce Brasil + engenharia + desenvolvimento”. A UGT e a Força Sindical também têm cumprido um cronograma de convites.
Alguns sindicatos recebem candidatos a governador com os mesmos propósitos acrescidos de preocupações mais localizadas, como fez o sindicato dos hoteleiros cuja pauta abrange inúmeras questões atinentes ao governo do Estado, como o turismo local.
Com meu conhecimento nenhuma entidade se dispôs ainda a ouvir candidatos a cargos eletivos proporcionais, deputados estaduais, federais e senadores (embora as eleições destes últimos sejam majoritárias, mas sem segundo turno).
A dificuldade em fazer isto pode decorrer do fato de que um convite a um candidato a cargo legislativo já é quase uma declaração de apoio a ele, o que não ocorre com os postulantes a cargos majoritários porque, em princípio, todos podem ser convidados sem discriminação.
Esta dificuldade, que é real e compreensível, deve ser enfrentada e superada com a escolha criteriosa de candidatos sujeitos a um protocolo que os defina de maneira categórica, razoável e justificável sem dar brechas à acusação de partidarismo ou discriminação.
Pode ser o pertencimento à mesma categoria representada pela entidade ou o apoio indiscutível e ao longo do tempo do candidato às pautas sindicais respectivas ou às lutas travadas pelos trabalhadores; o prestígio pessoal e a capacidade eleitoral devem ser levados em conta.
Há inúmeras outras formas de, evitando a partidarização, cumprir ao mesmo tempo a tarefa de “descarregar” (um termo antigo de eleições passadas) as intenções de votos da base em tal ou qual candidato a deputado estadual, federal ou senador.
Não devemos nunca nos esquecer de que o futuro presidente e os futuros governadores governarão com casas legislativas eleitas já no dia 7 de outubro (primeiro turno) e dependerão destas para realização de seus programas. A nós interessa nelas uma melhora da correlação de forças.
João Guilherme Vargas Netto
consultor de entidades sindicais de trabalhadores