Indicador calculado por Ipea e PNud cedeu pela 1ª vez desde 2010 e 4,1 milhões entraram na pobreza
O encolhimento da renda em níveis mais baixos do que os obtidos em 2012 fez com que o desenvolvimento humano em 2015 estagnasse pela primeira vez desde 2010, revelam dados divulgados ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNud).
A pesquisa, atualizada com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indica que a renda per capita do brasileiro caiu de R$ 803,35, para R$ 746,84 de 2014 para 2015, ano em que 4,1 milhões entraram na pobreza, sendo 1,4 milhão na extrema pobreza.
O índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) permaneceu em 0,761 entre 2014 e 2015. O indicador vai de zero a 1 e quanto maior o número, melhor o resultado. O IDHM cresceu em média 0,8% ao ano entre 2011 e 2015, menos que o 1,7% anual registrados entre 2000 e 2010. “2015 foi o primeiro ano em que o índice do Brasil ficou igual”, explica Marco Aurélio Costa, coordenador do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil pelo Ipea.
“Esses dados alertam para a necessidade de políticas públicas voltadas ao crescimento do emprego e da renda, sem deixar de lado o combate à desigualdade”, aponta o estudo. Em três dimensões que compõem o IDHM, o país continuou o ritmo de aumento do índice de longevidade, mais resistente aos efeitos de curto prazo da recessão, que passou de 0,86 para 0,841 em 2015, e cresceu a uma média anual de 0,6% desde 2011.
O desempenho foi puxada pelo aumento da esperança de vida , que passou de 75,1 anos para 75,4 anos entre 2014 e 2015, e a queda na mortalidade infantil, que chegou a 13,8 óbtios por mil nascidos vivos em 2015 (ante 14,4 em 2014).
O índice de educação também melhorou de 0,706 para 0,713 em 2015, mas mostrou desaceleração: a média anual de crescimento caiu para 1,3% entre 2011 e 2015, ante ritmo de 3,4% entre 2000 e 2010.
Outro dado que chama a atenção o relatório é que em 2015, ano em que os efeitos da recessão começavam a se agravar e que a inflação superior os 10%, aumentou a proporção de pessoas consideradas vulneráveis na população, com renda per capita inferior a R$ 255 mensais a valores de agosto de 2010, algo próximo a R$ 400 atuais. A proporção de vulneráveis, que vinha caindo desde 2011, subiu de 22,1% para 24,3% da população de 2014 para 2015.
O pesquisador Marcelo Neri, diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, destaca que o ano de 2015 foi um ano ruim para a economia em geral, mais anda pior para os pobres: enquanto o PIB caiu 3,8% e a renda geral caiu 7% e a renda dos 5% mais pobres amargou retração de 14,23%. “A Grande perda de renda foi para a base mais pobre”, afirma Neri, que explica que a distribuição ficou mais desigual para os pobres.
“Tem uma razão clara que o congelamento nominal do Bolsa Família naquele ano, em que a inflação chegou a dois dígitos”, afirma Neri, que estima que R$ 1 gasto em Bolsa Família tem um efeito multiplicador de R$ 1,78 no PIB. “Pela gravidade da recessão deveríamos estar investindo mais nos pobres”.