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Dieese chega aos 60 anos à frente do Compromisso pelo Desenvolvimento

Reconhecido pelos relevantes serviços prestados à sociedade e ao movimento sindical, Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio Econômicos chega aos 60 anos com fôlego de atleta no auge da forma.

Comemoração na sede do órgão, em São Paulo, na sexta-feira 4, foi prestigiada por líderes de diferentes centrais sindicais e categorias profissionais; ministro do Trabalho, Miguel Rosseto prestigiou evento.

Ao site BR:, secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Juruna, e diretor-técnico do Diesse, Clemente Ganz, destacaram importância do famoso Departamento; ambos ressaltaram importância da iniciativa atual do Compromisso pelo Desenvolvimento; “Já recebemos mais de 60 adesões de entidades de trabalhadores e empresários desde que lançamos o movimento”, disse Ganz, sobre ato na quinta-feira 3.

A descoberta da manipulação, pela área econômica do regime militar, do índice de correção do salário mínimo, em 1977, foi, entre outros, um dos grandes feitos do Dieese em benefício da sociedade, em geral, e do movimento sindical, em particular.

No momento, a Departamento coordena o movimento Compromisso Pelo Desenvolvimento, que vai unindo entidades representativas dos trabalhadores e dos empresários em torno da formulação de saídas paa a crise econômica.

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos – Dieese – foi criado em 1955, pelo movimento sindical, para suprir a necessidade de uma instituição confi ável de dados econômicos.

Na década de 1950, devido ao intenso desenvolvimento industrial e urbano que o Brasil vivia, o agravamento das condições de vida e
a suspeita de fraudes com relação aos índices econômicos prejudicavam os trabalhadores.

Em consequência, grandes greves contra a alta infl ação e contra a carestia marcaram o período. A principal delas, a Greve dos 300 mil, em 1953, protestou contra o alto custo de vida em São Paulo, paralisando por 29 dias trabalhadores de diversas categorias. A greve teve como desdobramentos a formação do Comitê Intersindical de Greve e a criação do Pacto dos Quatro Sindicatos: têxteis, metalúrgicos, madeireiros e vidreiros (todos de São Paulo).

Deste movimento surgiu, em 1954, o Pacto de Unidade Intersindical (PUI), considerado embrião do Dieese. Luiz Tenório de Lima, o Tenorinho (falecido em 2010), um dos fundadores do Dieese e ex-diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Alimentação e Indústria de Laticínios de São Paulo, explica esse processo:

“As lutas sindicais encontravam a barreira de como comprovar a percentagem que os trabalhadores reinvidicavam. Os únicos órgãos em que a Justiça se baseava eram uma comissão do Ministério do Trabalho e da Secretaria de Abastecimento de São Paulo. Os dados dessas duas fontes nunca conferiam com aquilo que a gente achava que era custo de vida. E nós só levávamos vantagem quando fazíamos aquelas greves enfrentando polícia, como fi zemos em 1953. Então surgiu a ideia de criar o nosso próprio organismo de levantamento de custo de vida”.

“Em 1977, o Dieese descobriu que o índice oficial da inflação, de 1973, havia sido manipulado pela ditadura militar”.

Com este propósito o Dieese foi criado, em22 de dezembro de 1955, por um grupo de vinte dirigentes sindicais paulistas, tendo como primeiro presidente Salvador Romano Losacco, do Sindicato dos Bancários. O primeiro diretor técnico do Departamento foi o sociólogo José Albertino Rodrigues. Ele permaneceu no cargo entre 1957 e 1962, dando início a uma longa trajetória baseada no tripé pesquisa, assessoria e educação.

Um dos primeiros trabalhos do Dieese, ainda na década de 1950, foi uma pesquisa de padrão de vida das famílias paulistanas, que serviria como base para o Índice de Custo de Vida (ICV). A pesquisa era feita através do acompanhamento de famílias que concordavam em participar por um grupo de técnicos.

Após o golpe militar de 1964 o Dieese sofreu com a desarticulação do movimento sindical, e foi impedido de realizar suas funções devido à intervenção no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, onde estava sediado, retomando suas atividades em 1965.

Mas, mesmo com a repressão, o Departamento conseguiu apoiar os trabalhadores, fornecendo cálculos e estudos sobre a política salarial, cada vez mais arrochada. Segundo Tenorinho, o Dieese chegou a realizar, clandestinamente, estudos para o MIA, Movimento Intersindical Anti-arrocho.

Além disso, foram os técnicos do Dieese, coordenados à época pelo economista Walter Barelli, que denunciaram, em 1977, que o índice ofi cial da inflação de 1973 havia sido manipulado, resultando em um rebaixamento dos salários. Esta denúncia abriu uma grande discussão na sociedade, deflagrando uma série de manifestações operárias pela reposição salarial como na base do Sindicato
dos Metalúrgicos de S.Paulo, na época presidido por Joaquim dos Santos Andrade, o Joaquinzão. Isto deu grande visibilidade à entidade.

Em 1981, para renovar a base calculo do ICV, foi criada a Pesquisa de Padrão de Vida e Emprego, PPVE, que se estendeu até 1983. A PPVE está na origem da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), lançada no fi nal de 1984, em parceria com a Fundação Seade. A metodologia inovadora da PED aprofundava a identifi cação de componentes do desemprego que o IBGE camufl ava. Com isto a PED chamou a atenção da sociedade brasileira para a miséria do desempregado, em um contexto de elevados índices de desemprego.

Nas décadas de 1980 e 1990 o Dieese atravessou e superou vários momentos de crises fi nanceiras, e às vezes de ordem sindical e até política.

Em maio de 2010, foi concretizado um dos mais ambiciosos projetos do instituto: a Fundação Escola Dieese de Ciências do Trabalho, de ensino superior, com disciplinas de especialização para dirigentes sindicais. Segundo o diretor técnico Clemente Ganz Lucio, o objetivo é que, “no futuro, jornalistas, economistas, advogados e juristas se especializem na questão do trabalho”.

*Carolina Maria Ruy é jornalista, coordenadora de projetos do Centro de Cultura e Memória Sindical

Clique aqui e acesse esta matéria com entrevistas ao BR: do ex-presidente do Dieese e secretário-geral da central Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, e do diretor-técnico Clemente Ganz.