Diminui a desigualdade no Brasil, mas cresce no Sudeste, diz IBGE

BRUNO VILLAS BÔAS, LUCAS VETTORAZZO
DO RIO

O Brasil ficou menos desigual em 2014, diz pesquisa divulgada nesta sexta-feira (13) pelo IBGE.

O motivo foi o aumento do rendimento da parcela mais pobre da população, ao mesmo tempo em que houve queda na renda do extrato mais rico da sociedade. No Sudeste, entretanto, a desigualdade cresceu no período.

Os dados são da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2014, uma das pesquisas mais completas sobre os lares brasileiros. Ela foi a campo no fim de setembro do ano passado, antes do agravamento da crise econômica no país.

O rendimento da fatia 10% mais pobre da população foi de R$ 256 na média mensal, aumento de 4,1% na comparação com o ano anterior. Este foi o maior avanço entre todas as faixa de renda. Nenhuma outra chegou perto disso.

Ao mesmo tempo, no outro extremo da pirâmide, a renda dos 10% mais ricos foi de R$ 7.154, 0,4% menor do que no ano anterior. No extrato 1% mais rico, a queda foi maior, de 3,4%, para R$ 20.364.

Todas faixas intermediárias também tiveram aumento da renda no ano passado, especialmente as que giram em torno do valor do salário mínimo (de R$ 724 em 2014), o que é uma boa notícia para a redução da desigualdade no país.

Apesar dos avanços, o rendimento mensal considerando todas as faixas continuou perdendo fôlego em 2014: foi de R$ 1.774, alta de 0,8%, a menor variação em pelo menos uma década. Em 2011, chegou a crescer mais de 8%.

Tdesenho‘OLHAR PELO RETROVISOR’

Márcio Salvato, professor de economia do Ibmec, diz que o aumento da renda da parcela mais pobre da população indica um mercado de trabalho ainda dinâmico entre 21 a 27 de setembro do ano passado, período em que pesquisa do IBGE foi a campo.

Em 2014, o número de pessoas empregadas no Brasil cresceu 2,9% na comparação ao ano anterior, somando 98,6 milhões de pessoas.

“É um retrato do Brasil uma semana antes do primeiro turno das eleições presidenciais, quando o governo ainda não havia retirado incentivos ao crescimento. É, portanto, um mercado que absorvia pessoas com menos qualificação”, disse o especialista.

Para João Saboia, professor titular do Instituto de Economia da UFRJ, os números são positivos para uma economia que cresceu apenas 0,1%. Os ganhos seriam frutos sobretudo do reajuste de 6,78% do salário mínimo no ano passado.

Para ele, a tendência é que a desigualdade fique estagnada neste ano e retroceda em 2016, efeito do menor aumento do salário mínimo, avanço da inflação, da informalidade e do desemprego.

“Sabemos que o mercado de trabalho, desde o ano passado, piorou muito com o fim de um ciclo econômico de incentivo ao consumo das famílias e de gastos do governo. [A Pnad] É um olhar pelo retrovisor”, diz Saboia.

A desigualdade da renda do trabalho não cresce no Brasil desde 2001, período para o qual o IBGE tem dados disponíveis pelo novo modelo da Pnad.

REGIÕES

Se a desigualdade foi reduzida na média do país em 2014, ela aumentou no Sudeste: de 0,475 em 2013 para 0,478. Foi a única região em que houve alta do indicador.

O índice não crescia na região mais rica do país há quase uma década, desde 2005. Com esse resultado, ele regrediu de volta ao patamar de 2011 (0,479).

Esse aumento da desigualdade ocorreu porque houve queda na renda da parcela 10% mais pobre da região, ao mesmo tempo que outras parcelas tiveram aumento da renda.

Para Naércio Menezes Filho, professor do Insper, o mercado de trabalho do Sudeste pode ter perdido dinamismo antes do restante do país, afetado pelo comportamento da indústria.

“O Sudeste foi o primeiro. Mas a distância da renda do trabalho entre os mais ricos e mais pobres voltou a crescer em geral no país em 2015, por outros indicadores”, diz Menezes Filho.

O Nordeste continua sendo a região mais desigual do Brasil –seu índice de Gini foi de 0,501, bem acima da média nacional (0,490). Essa região foi, contudo, a que teve a maior redução da desigualdade na comparação com 2013 (0,524).

Houve redução da desigualdade também nas regiões Norte (de 0,475 em 2013 para 0,468 em 2014), Sul (de 0,453 para 0,442), e Centro-Oeste (de 0,505 para 0,487).

Já o índice de Gini que mede todas as fontes de rendimento (como aposentadorias, transferências do governo, aluguéis e ganho de aplicações) teve queda de 0,501 em 2013 para 0,497 em 2014.

ERRO EM 2013

Na Pnad de 2013, divulgada no ano passado, um equívoco no cálculo provocou erros nos resultados, incluindo o índice de Gini, rendimento médio do trabalhador e no número de pessoas ocupadas no país.

No caso do índice de Gini, o IBGE informou inicialmente que o indicador havia crescido de 0,496 em 2012 para 0,498 em 2013. O indicador foi posteriormente corrigido para uma queda de 0,496 para 0,495.