Anna França, editora de negócios
Crise consegue o que parecia impossível
A crise econômica conseguiu o que parecia impossível. Uniu patrões e empregados para reivindicar melhores condições de competição para a indústria nacional. Ontem, empresários e sindicalistas se juntaram para lançar a “coalizão indústria-trabalho” e publicar um manifesto pela competitividade da indústria de transformação. No documento, constam reclamações tradicionais do setor sobre a dificuldade com câmbio apreciado, juros elevados, cumulatividade de impostos e alta carga tributária.
Assim, ao que tudo indica, suspende-se, pelo menos por enquanto, a eterna luta entre capital e trabalho. O trabalhador parece que percebeu que, se a empresa não sobrevive, e lucra, não mantém os postos. Já a indústria também pode ter entendido que essa luta não tem lados opostos, e que só junto com os trabalhadores, reivindicando a manutenção dos empregos, pode-se manter a produção viva no País.
Mesmo com a desvalorização recente do real ante o dólar – o que garantiria parte da competitividade -, o país ainda onera demais a produção. O manifesto usa o “índice Big Mac” (aquele que considera o preço do sanduíche mais vendido da rede McDonald’s. em todo o mundo) para mostrar que o Brasil ainda está cerca de 146% mais caro que Japão, China e Rússia. As entidades frisam também a perda de participação da indústria no PIB, que, na década de 1980, chegava a 35% e que, hoje, é de apenas 2%.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) – que lidera a mobilização -, Carlos Pastoriza, fez questão de ressaltar que as reclamações não são contra um governo ou contra um partido. “É um movimento apartidário, um grito de alerta para o desmonte da indústria de transformação”, disse à Agência Estado.
Mas será que esse “grito de alerta”, como foi chamado, pode mesmo transformar rivais em parceiros? Talvez seja uma saída para que, assim, o capital possa continuar mantendo o trabalho e trabalho, por sua vez, sustentando o capital.