Economia reage no 3º trimestre

Depois de perder fôlego, como deve mostrar o resultado do PIB do 2º trimestre a ser divulgado na sexta, economia voltou a acelerar

Fernando Dantas / Rio

A economia pisou no freio no 2.º trimestre, e voltou a acelerar no 3.º – mas sem voltar ao ritmo alucinante do primeiro. Assim poderia ser resumida a visão quase consensual do mercado sobre o PIB do 2.º trimestre, que será divulgado na sexta-feira, e o momento atual da atividade econômica.

Para o 2.º trimestre, economistas ouvidos pelo Estado preveem um crescimento entre 0,6% e 0,9%, depois do salto de 2,7% no 1.º trimestre. Em ambos os casos, trata-se do crescimento em relação ao trimestre imediatamente anterior, já descontadas as variações sazonais.

Essas taxas podem ser anualizadas: 0,6% corresponde a um ritmo anual de 2,4%, 0,9% a 3,6% e 2,7% a 11,2%. Assim, se de fato o crescimento no 2.º trimestre cair para menos de 1%, a economia terá desacelerado de um ritmo anual de 11% para menos de 4%, entre o 1.º e o 2.º trimestres.

As fortes oscilações do PIB ao longo dos trimestres de 2010 devem-se basicamente às grandes variações da indústria, que começou o ano em ritmo superforte, sofreu uma desaceleração no 2.º trimestre, por causa do fim dos incentivos tributários e de ajuste de estoques, e voltou a se aquecer no 3.º trimestre, puxada pela contínua expansão do crédito e da massa salarial.

Depois de cair em abril, maio e junho, a produção industrial deve voltar a subir 0,9% (ante o mês anterior)em julho, segundo projeção do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Roberto Padovani, estrategista do WestLB, projeta 0,6% de expansão no 2.º trimestre, e uma reaceleração para algo próximo a 1% no 3.º. Ele nota que o ritmo atual está mais perto do ocorrido no 2.º trimestre do que no 1.º. Assim, mesmo com a retomada no 3.º trimestre, ele acha que “há uma desaceleração em curso, que enfraquece a visão de crescimento econômico excessivo”.

Se a visão de retomada no 3.º trimestre parece consensual, há divisão sobre se a velocidade atual da economia está em torno do potencial de crescimento não-inflacionário, ou se está acima dele. A maioria dos economistas estima que esse potencial situa-se entre 4% a 4,5% ao ano. Pelas contas do WestLB, por exemplo, a economia brasileira alinhou-se próxima do seu potencial no 3.º trimestre.

Já Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander, tem uma análise diferente. Ele prevê uma desaceleração para 0,9% no 2.º trimestre, o que representa 3,6% em termos anualizados e está apenas um pouco abaixo do potencial. Segundo suas projeções, o PIB pode registrar um crescimento de 1,3% ou 1,4% no 3.º trimestre, o que já joga o ritmo anual para próximo de 5,5% – acima do potencial.

Essas diferentes visões implicam previsões distintas de política monetária. Quase todo o mercado acha que o Banco Central (BC) não vai mais subir a Selic (taxa básica) em 2010 (ela está em 10,75%). Mas os que projetam uma retomada mais forte no 3.º trimestre apostam num novo ciclo de alta da Selic em 2011.