Dados do governo vão mostrar a extinção de mais de cem mil vagas
O mercado formal de trabalho registrou em fevereiro o pior resultado para o mês dos últimos 24 anos. Segundo fontes que tiveram acesso aos dados que serão divulgados segunda-feira pelo Ministério do Trabalho e Previdência, o saldo negativo (diferença entre contratações e demissões) foi de mais de 100 mil vagas, o maior corte para o mês de toda a série histórica do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), iniciada em 1992. Até então, o recorde negativo eram os 78 mil empregos perdidos em fevereiro de 1999. Nos últimos 12 meses, o país perdeu quase 1,7 milhão de empregos.
Tradicionalmente, fevereiro não costuma ser um dos melhores meses em termos de abertura de vagas, mas, desde o ano 2000, o país vinha gerando postos de trabalho nesse período. Em fevereiro de 2015, quando a crise chegou ao mercado de trabalho, foram cortados 2,4 mil empregos. O melhor desempenho no segundo mês do ano foi registrado em 2011, quando foram criadas 280,7 mil vagas com carteira assinada.
Para Rodolfo Torelly, do site especializado Trabalho Hoje, os números indicam que, neste ano, o mercado formal de trabalho deverá fechar 2,5 milhões de vagas. No ano passado, o país perdeu 1,5 milhão de empregos formais.
— A crise no mercado de trabalho só se acentua, e não há no horizonte indicadores econômicos que possam reverter esse quadro — disse Torelly.
Os números da indústria paulista confirmam o mau desempenho do mercado formal de trabalho no mês passado. O setor fechou 12 mil postos, uma queda de 0,53% ante o total de empregados em janeiro, que também registrara corte de vagas. Só neste primeiro bimestre, já são 27.000 empregos a menos no setor, segundo revela a Pesquisa de Nível de Emprego do Estado de São Paulo, divulgada ontem pelo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon), da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).
— É um começo de ano bem ruim — observa Paulo Francini, diretor do Depecon.
Em 12 meses, o total de empregos da indústria de São Paulo apresenta declínio de 8,27%, variação correspondente ao desligamento de 257.500 empregados. O mês de fevereiro marcou a 53ª queda seguida do indicador e a pior taxa de sua série histórica na comparação com igual mês do ano anterior. E, pela primeira vez, a queda do nível de emprego na indústria paulista em relação há um ano antes ultrapassa os 10%.
Dos 22 setores analisados pela pesquisa, 17 tiveram perda no nível de emprego, três apresentaram crescimento e dois, estabilidade. O setor de produtos alimentícios criou 4.287 vagas, o maior saldo positivo. Contribuiu para isso o segmento de açúcar e álcool, que não contratava desde junho de 2015 e admitiu 3.578 trabalhadores em fevereiro — e tem grande peso no segmento de produtos alimentícios.
Outros setores que contrataram foram o de couro e calçados (1.099 vagas a mais), no segundo mês consecutivo de alta; e o de coque, derivados do petróleo e biocombustíveis (626 trabalhadores). Francini explica que o setor de calçados conseguiu alguma recuperação graças à substituição de produtos importados:
— O preço é competitivo.
A maior perda de vagas foi verificada em metalurgia, com o corte de 4.502 empregos, ou variação negativa de 7,5%.