Montadoras negociam com governo medidas de flexibilização de emprego

A expectativa é que o pacote de mudanças seja aprovado via medida provisória ainda neste mês. Ajuste da jornada de trabalho e adequação proporcional dos salários aparecem entre alternativas

indústria automotiva está em negociações avançadas com o governo para aprovar um conjunto de medidas para flexibilizar a mão de obra do setor. A expectativa é que o pacote de mudanças seja aprovado via medida provisória (MP) ainda neste mês.

Entre as propostas do chamado Programa de Proteção ao Emprego (PPE), está a redução da jornada com ajuste proporcional dos salários e flexibilização de linhas ou áreas de produção de acordo com a demanda do mercado.

“Este programa é vantajoso e precisa ser permanente”, afirmou nesta segunda-feira (8) o presidente da Anfavea, Luiz Moan. Segundo ele, o governo pagaria o complemento de parte da redução e a montadora não seria obrigada a pagar os encargos sobre a mão de obra.

Entre janeiro a maio, houve recuo do nível de emprego nas montadoras de 9,25% em relação a igual período de 2014. Ao final do mês passado, a indústria tinha 138 mil empregados, menor nível desde maio de 2010.

Diante da queda contínua das vendas e da produção no País, a Anfavea refez as suas projeções para o ano. Em 2015, os emplacamentos devem recuar 20,9% em relação ao ano passado. Em leves, a queda deve atingir 19,5% e, em caminhões, 41%.

Já a produção deverá apresentar declínio de 17,8% neste ano, sendo uma queda de 17% em leves e 32% em pesados. “Com esta revisão, fica claro o excedente de pessoal e a necessidade de aprovação do programa de proteção ao emprego”, destaca Moan.

No entanto, o pacote de medidas requer a mudança na lei, justamente no momento em que o governo está enfraquecido e a pauta do Congresso já contempla questões polêmicas sobre emprego, como a terceirização.

Enquanto as conversas com o governo continuam, montadoras decretam férias coletivas, paradas e suspensão temporária do contrato de trabalho (layoff). A situação é ainda mais crítica no segmento de caminhões, em que o volume de produção do mês passado atingiu o menor nível desde maio de 1999.

Uma projeção da Anfavea aponta que os emplacamentos de caminhões devem atingir 77 mil unidades neste ano. Nem as previsões mais pessimistas do setor contemplavam este volume de vendas.

Além disso, o nível de produção da indústria como um todo voltou ao patamar de 2005. “Já temos 51 dias de estoques, o que explica os ajustes de pessoal”, ressalta Moan.

Exportações

De acodo com levantamento da Anfavea, na passagem de abril para maio as exportações cresceram 41,7%, para 40,7 mil unidades. Já no acumulado do ano, as vendas externas fecharam em alta de 3% sobre o mesmo período de 2014, puxadas principalmente pela recuperação da comercialização com o México.

“Achamos fundamental a ampliação deste acordo através da inclusão de mais itens de comercialização, maior liberdade de importação e exportação e, em três anos, poderemos ter um resultado muito satisfatório”, diz Moan.

Conforme a entidade, de abril para maio as exportações ao México saíram de 10,7 mil unidades para 18,7 mil unidades, um crescimento de 75% em volume e 71% em valores.

Para o presidente da consultoria automotiva Jato Dynamics no Brasil, Vitor Klizas, desde 2005 as marcas passaram a dar mais atenção para o mercado interno – que ficou muito aquecido – e deixaram de acompanhar as necessidades de outros mercados. “A introdução de novas tecnologias, demandadas em outros mercados, custa caro e a indústria brasileira passou a dar menos atenção para isso”, diz.

Além disso, a busca por novos mercados leva tempo. “A indústria automotiva precisa andar de mãos dadas com o governo para estabelecer acordos bilaterais e alavancar as exportações”, destaca Klizas.

Segundo o presidente da Anfavea, o governo brasileiro continua em conversas com Colômbia, Peru e Equador para ampliar as exportações. Além disso, Moan reforça que o tratado com a Argentina está para sair. “Em breve, devemos ter a definição do acordo com o país vizinho, que deve vigorar por dois anos”, comenta.

Klizas pondera ainda que o mercado externo é uma concorrência permanente e a indústria brasileira está tentando se adaptar às exigências de diversos países. Ele acrescenta que produzir sob plataforma global é um ponto positivo para as montadoras.

“Quando uma marca faz isso, fica mais fácil introduzir tecnologias exigidas em outros mercados”, afirma o executivo. Ele cita como exemplo a Ford, que há um tempo já investe na fabricação de produtos globais no Brasil. “A empresa deu um passo à frente quando tomou essa decisão”, diz.

Klizas complementa que as exportações serão parte importante do processo de utilização da capacidade instalada que, hoje, está muito aquém do desejado no País.

“O dólar atual ajuda, mas a inflação corrige todo ganho da indústria. A condição externa para o Brasil é crítica por esse campo de forças”, avalia.

Segundo ele, a indústria automotiva brasileira só deve começar a esboçar uma recuperação em 2016. “Vamos iniciar uma retomada aos níveis de 2012 e 2013 somente em meados de 2017. Toda a cadeia já está empenhada para alavancar os negócios”, acredita.