O Banco Central calcula que a economia brasileira irá encolher 3,3% e a inflação chegará a 7,3% neste ano, de acordo com o relatório trimestral de inflação, divulgado nesta terça-feira (27).
A projeção anterior, divulgada no relatório de junho, trazia a mesma estimativa para o PIB (Produto Interno Bruto), mas previa inflação menor, de 6,9%.
O banco diz que a inflação deve continuar caindo, mas numa “velocidade incerta”.
Se a previsão se confirmar, a alta dos preços em 2016 vai estourar o teto da meta, pelo segundo ano seguido. O objetivo do governo é manter a inflação em 4,5% ao ano, mas com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo (na prática, variando entre 2,5% e 6,5%). Em 2015, a inflação foi de 10,67%.
Quando a alta de preços supera o limite máximo, o presidente do Banco Central precisa escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda explicando os motivos.
Para o ano que vem, a projeção do BC é de que a inflação chegue a 4,4%. A expectativa anterior era de 4,7%. Em 2017, a tolerância é de 1,5 ponto, com o teto da meta a 6%. Ou seja, a previsão coloca a alta de preços praticamente no centro da meta.
Ainda segundo estimativa do BC, o dólar deve fechar este ano em R$ 3,30 projeção menor que a de junho, de R$ 3,45. A previsão para a taxa básica de juros, a Selic, foi mantida em 14,25%.
Queda na taxa de juros
O relatório de inflação do BC é acompanhado pelo mercado porque contém sinais sobre as perspectivas do banco para a taxa de juros.
O documento deste trimestre afirma que a queda nos juros dependerá da confiança do banco de que as metas de inflação serão alcançadas.
Como o BC passou a prever inflação dentro da meta no ano que vem, aumenta a expectativa de que a taxa caia em breve.
O BC cita a desaceleração da inflação dos alimentos e a aprovação e a implementação do ajuste fiscal como fatores que determinarão se a taxa cairá ou não.
Com relação aos alimentos, o relatório diz haver evidências de que a queda nos preços dos alimentos no atacado está sendo transmitida para o varejo.
O documento também vê sinais de que as medidas do ajuste fiscal estão encaminhadas, mas diz que “o processo ainda está no início e as incertezas quanto à aprovação e à implementação dos ajustes necessários permanecem”.
Juros nos EUA
No cenário externo, destaca as incertezas sobre o crescimento mundial e, principalmente, sobre a taxa de juros dos Estados Unidos.
Na semana passada, o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) manteve a taxa de juros no país, mas sinalizou que deve subi-la na próxima reunião, em dezembro.
Relatório orienta decisões do BC
O Relatório de Inflação é publicado trimestralmente pelo Banco Central. Ele reúne indicadores da economia nacional e global, além de projeções para os próximos meses feitas pelo próprio BC e por analistas de mercado.
O objetivo do documento é identificar a tendência da inflação, para embasar as decisões do BC a respeito dos juros. A cada 45 dias, o Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, se reúne para definir a taxa básica de juros (Selic), que serve de referência para outras taxas.
Em geral, juros altos são usados para controlar a inflação, porque deixam o crédito mais caro e levam as pessoas a consumir menos, forçando os preços a caírem. Por outro lado, juros altos dificultam o crescimento, principalmente num momento de crise e desemprego, como o que o Brasil enfrenta.
Projeções do mercado e do governo
Analistas de mercado consultados pelo BC em sua pesquisa semanal, o Boletim Focus, afirmam que o país deve fechar este ano com a economia encolhendo 3,14% e inflação de 7,25%.
O governo do presidente Michel Temer, por sua vez, estima que iremos fechar 2016 com retração de 3,1% e inflação a 7,2%.