Inflação deixa para trás a renda dos trabalhadores

 

Queda real de fevereiro para março foi de 2,8%, no 2º mês seguido de baixa.

Em um ano, carestia ficou 3,2 pontos acima dos reajustes; crise deve elevar demissões e pressionar salários

A inflação e a desaceleração econômica, que aumentaram as demissões e diminuíram o poder de negociação salarial, levaram a renda média do trabalhador a uma redução de 2,8% em março –a maior de um mês para outro desde janeiro de 2003, segundo o IBGE.

A renda caiu, em termos reais, de R$ 2.196 para R$ 2.134. A taxa de desemprego, por sua vez, fechou em 6,2%, a mais alta desde maio de 2011, mostrou a PME (Pesquisa Mensal de Emprego), feita nas seis maiores regiões metropolitanas. É o terceiro mês seguido de piora. Em fevereiro, foi 5,9%, e, em março, 5%.

O contingente de desocupados cresceu 23,1% sobre março de 2014. Desaceleração econômica, reforçada pela crise da Petrobras e fornecedores e por expectativas ruins de empresários e consumidores, são causas citadas.

“Em um ano, o emprego caiu 0,9%. Há os trabalhadores que perderam o emprego e ainda não conseguiram se recolocar e, ainda, os que, em 2014, não viam necessidade de trabalhar, mas agora precisam, com a queda da renda”, diz Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria.

Os dados do IBGE mostram que os salários caem devido ao fechamento mais acelerado de vagas na indústria e na construção civil.

A crise na indústria levou o setor a diminuir o número de vagas em 4,5% em fevereiro, na comparação com igual mês do ano anterior.

Foi a 41ª queda seguida na comparação.

“Trata-se de áreas com maior formalização [carteira assinada]. As demissões estão sendo compensadas pela absorção em outros segmentos, como o emprego por conta própria, que aumentou. São as pessoas buscando alternativas, por isso a desocupação não é ainda maior”, afirma Rafael Bacciotti.

Com mais gente procurando vaga, a capacidade de barganhar empregos de melhor salário ou dissídios maiores diminui, diz Rodrigo Leandro de Moura, do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas.

“As empresas aproveitam esse enfraquecimento para impor reajustes menores do que a inflação, até porque estão pressionadas pelos custos e, com a crise, não podem repassá-los aos preços.”

O efeito da inflação é evidente nos salários quando se observa que a renda nominal (sem correção monetária) em março, comparando com março de 2014, cresceu 5%, abaixo da inflação do período, de 8,2%.

Fonte: Folha de S. Paulo