Inflação desacelera nos últimos 12 meses e avança só 1% em fevereiro

Mesmo com a economia mostrando sinais de robustez no front doméstico, presidente do Fed de São Francisco ainda tem dificuldade em ver a inflação no país caminhando para a meta de 2%

– A inflação nos Estados Unidos desacelerou nos últimos 12 meses terminados em fevereiro, segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) divulgado ontem pelo Departamento do Comércio.

Os preços tiveram alta 1% em fevereiro em relação ao mesmo mês de 2015. Na comparação com o primeiro mês deste ano, o avanço foi de 1,2%. Se forem excluídos os preços voláteis dos alimentos e da energia, a inflação registrada foi de 1,7% no período. O resultado é o mesmo observado em janeiro e representa a mais alta desde julho de 2014.

Reação

O enfraquecimento das principais economias no exterior tem ajudado a manter baixa a inflação nos Estados Unidos, avaliou ontem o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de São Francisco, John Williams. Em entrevista concedida à CNBC, o dirigente explicou que, mesmo com a economia mostrando sinais de robustez no fronte doméstico, os formuladores de política monetária ainda têm dificuldades em ver a inflação no país caminhando para a meta de 2%.

“O maior problema”, disse Williams, está nas finanças globais e no crescimento em todo o mundo. “O que acontece no Brasil ou na China – o que acontece no Sudeste Asiático o na América do Sul – tem um grande impacto sobre a economia norte-americana em termos de metas de emprego e inflação”, avaliou um dos presidentes do banco.

Além disso, lembrou o dirigente, o Fed deve estar “ciente do fato de que, quando atua, afeta a economia”. Por causa disso, o BC precisa comunica sua política da “melhor forma possível” e cumprir suas metas domésticas “sem criar volatilidade ou confusão nos mercados globais”.

Para Williams, que não vota nas reuniões de política monetária deste ano, o Fed não deve causar nova volatilidade da próxima vez que elevar os juros, como aconteceu em dezembro. Isso acontece porque, na visão da instituição, os mercados não deram sinais de “estar despreparados ou desavisados em relação ao aumento”.

O presidente do Fed de San Francisco acrescentou que a maior parte da volatilidade desde o início do ano parece guardar relação com acontecimentos globais.

Questionado se o Fed irá elevar os juros na reunião de 26 e 27 de abril, Williams disse que a autoridade monetária “está agindo de forma bastante dependente dos dados”.

Se ontem a expectativa do mercado esteve centrado na divulgação dos dados da inflação dos EUA – que podem aumentar ainda mais as expectativas de um movimento dos juros em breve, se sinalizarem crescente pressão inflacionária -, para hoje, o mercado aguarda o discurso que a chair Janet Yellen e outras autoridades do Fed farão no Economic Club of New York. Estas declarações e outros indicadores sobre a economia norte-americana que serão divulgados ao longo da semana colocam a política monetária dos EUA no foco do momento.

Nesta semana serão conhecidos os números do mercado de trabalho. A estimativa é da criação de 200 mil novos empregos no mês de março, número bem inferior aos 242 mil de fevereiro e à média de 228 mil dos últimos três meses. Mas se ficar próximo da estimativa, deverá aumentar a pressão, para reajustar os juros em junho ou, talvez, a alta ainda possa ocorrer em abril. Para hoje também está prevista a divulgação do indicador de confiança do consumidor norte-americano e, amanhã, será publicado o número de criação de vendas no setor privado daquele país.

Fed

Em sua última reunião, o Federal Reserve, banco central norte-americano, optou por manter as taxas de juros entre 0,25% e 0,5%. Foi a segunda vez que o órgão decidiu não alterar as taxas, após a primeira elevação em quase uma década, na reunião realizada em dezembro do ano passado.

Em sua última reunião, a maioria das autoridades do Fed havia dito agora esperar que será apropriado elevar os juros em 0,5 ponto percentual até o final deste ano.

Novas projeções mostraram que membros do Fed esperam dois aumentos de 0,25 ponto percentual nos juros até o fim do ano. Segundo o Fed, a economia global e os mercados financeiros “ainda representam riscos”, apesar na melhora em uma série de indicadores econômicos. Os membros do Fed haviam destacado o avanço no mercado de trabalho como sinal de fortalecimento do emprego no país, mas lembrou que a inflação ainda preocupa, já que continua abaixo da meta de 2%.

Porém, no final da semana passada, o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, já afirmara que outro aumento nos juros nos Estados Unidos “pode não estar longe”. A declaração foi feita após o Fed ter feito apenas pequenas reduções em suas projeções econômicas, divulgadas uma semana antes.