Pela quinta vez consecutiva, Copom decidiu pela estabilidade da Selic, mas decisão não foi unânime; dois dos oito diretores votaram pela elevação da taxa em 0,50 pp
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter pela quinta vez consecutiva a taxa básica de juros em 14,25% ao ano. Assim como nas últimas duas reuniões, a decisão não foi unânime: os diretores Sidnei Marques e Tony Volpon votaram para que a Selic subisse 0,5 ponto porcentual. Desde novembro, esses dois membros insistem para que a taxa suba para 14,75% ao ano. O voto dos dois diretores estava sendo considerado pelos analistas do mercado com um importante sinalizador dos próximos passos da política de juros do BC.
Assim como foi colocado pela primeira vez em janeiro, o BC enfatizou que há incertezas em especial, externas para promover uma mudança no patamar dos juros básicos. “Avaliando o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos, e considerando as incertezas domésticas e, principalmente, externas, o Copom decidiu manter a taxa Selic em 14,25% ao ano por seis votos a favor e dois votos pela elevação da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual”, trouxe o comunicado da cúpula do BC. A única mudança em relação ao comunicado anterior foi a retirada da palavra “elevação” na referência às incertezas domésticas.
Tanto o presidente Alexandre Tombini quanto Volpon acabaram de chegar ao Brasil depois de participarem, na China, de encontros do G20 e do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês). Apesar disso, mantiveram postura diferente em relação a seus votos Tombini pela manutenção dos juros e Volpon em favor da alta. A decisão e a divisão do placar veio em linha com o que previa o mercado financeiro.
Os dissidentes se mantiveram na mesma posição, apesar do pequeno fôlego das expectativas para a inflação vista na segundafeira no Relatório de Mercado Focus, que traz as projeções dos analistas do mercado financeiro. Pela primeira vez este ano houve redução da previsão do mercado financeiro para o IPCA de 2016 para 7,57%, ainda muito acima do teto da meta de 6,50%.
Já a corrente majoritária dentro do colegiado acredita que a redução dessas projeções ocorrerá não apenas por efeito estatístico em relação às altas taxas do ano passado, mas também porque o Brasil poderá sofrer uma onda desinflacionária do exterior. O País passa por um período de recessão e amanhã saem os dados oficiais do Produto Interno Bruto (PIB) de 2015.
Essa visão menos conservadora da maior parte da cúpula do BC agradou ao Palácio do Planalto e chegou a ser considerado desde a reunião anterior do Copom, inclusive, um aumento da pressão para que os juros baixassem.
Essa hipótese de redução, no entanto, foi claramente afastada por três membros do colegiado há cerca de 15 dias. Tombini e os diretores Aldo Mendes e Altamir Lopes descartaram haver no cenário do BC a possibilidade de queda da Selic, considerandose que a instituição mantém a missão de levar a inflação à meta de 4,5% em 2017. Por trás desse discurso orquestrado imperam, justamente, as expectativas em alta para o IPCA.
O consenso do mercado é o de que uma redução da taxa será vista em janeiro do ano que vem, para 13,75% ao ano. Isso, pelo Relatório Focus. Até o pronunciamento da alta cúpula descartando a baixa, começava a ganhar peso revisões da Selic para baixo ainda este ano. A corrente perdeu força, após as declarações dos representantes do BC. Se essa paralisia dos juros for confirmada, será o período mais longo de estabilidade da Selic desde 1999, quando o Brasil passou a adotar o regime de metas de inflação.
Com a manutenção da Selic, o Brasil segue disparado como maior pagador de juro real (descontada a inflação) do mundo. Nas projeções da Infinity Asset, só um corte da magnitude de 4,5 pontos porcentuais faria com que o Brasil saísse da liderança do ranking.