A presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), Janet Yellen, indicou nesta sextafeira (3) que os juros naquele país devem subir ainda neste mês.
Mesmo assim, o dólar perdeu para boa parte das moedas e ampliou a queda ante o real. A moeda americana caiu 1,20%, na cotação comercial, para R$ 3,1150.
O Ibovespa, o principal índice da Bolsa, fechou em alta 1,41%, aos 66.785,53 pontos.
Segundo analistas, o mercado já apostava no aumento iminente dos juros americanos desde quartafeira (1), após três outros integrantes do Fed terem dado declarações nesta direção.
Conforme levantamento da agência Bloomberg, a probabilidade de elevação das taxas neste mês saltou de 52% na terçafeira (28) para 80% na quarta (1) e 90% nesta quintafeira (2). Nesta sextafeira, passou para 94%.
Durante evento no Clube de Executivos de Chicago, Yellen disse que “a alta gradual dos juros ainda é apropriada”, e que um aumento em março “pode ser adequado se a economia evoluir conforme as expectativas”.
A presidente do Fed afirmou também que a perspectiva de crescimento da economia americana “parece boa” e que os “riscos provenientes do exterior aparentam ter diminuído”.
“No nosso encontro de março, vamos avaliar se os dados de emprego e inflação continuam a evoluir em linha com as nossas expectativas; neste caso, um ajuste das taxas de juros seria apropriado”, acrescentou.
“O discurso de Yellen não trouxe novidades, pois somente confirmou as apostas dos investidores; por isso houve uma correção no mercado, com dólar para baixo e Bolsa para cima”, afirma Rafael Ohmachi, analista da Guide Investimentos.
Na sessão anterior, o dólar comercial havia subido quase 2%, para a casa dos R$ 3,15, maior valor desde 26 de janeiro, justamente por causa do aumento da chance de alta dos juros americanos em março.
PROJEÇÕES
O Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto) do Fed se reúne nos dias 14 e 15 deste mês. Atualmente, os juros estão na faixa de 0,50% e 0,75%, e devem subir para entre 0,75% e 1,00%.
No mesmo encontro, o Fomc atualizará suas projeções para 2017. Atualmente, o comitê projeta três elevações dos juros neste ano.
“O que pode surpreender o mercado e fazer o dólar subir é se o Fed passar a prever quatro aumentos neste ano, em vez de três”, afirma José Faria Júnior, diretortécnico da Wagner Investimentos.
Para ele, mesmo que o aumento de março seja confirmado, a tendência continua sendo de queda do dólar ante o real, sobretudo por causa da recente valorização das commodities e das perspectivas de melhora da economia, tanto no cenário doméstico quanto no mundial.
André Perfeito, economistachefe da Gradual Investimentos, avalia que o discurso de Yellen foi importante porque não vincula a alta dos juros à política do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O republicano promete elevar os gastos públicos e reduzir impostos para estimular a economia. “A alta dos juros deverá ocorrer tão somente pela melhora da atividade econômica nos Estados Unidos.”
O economista destaca que os dados de emprego nos Estados Unidos relativos a fevereiro, que serão divulgados no dia 10, serão fundamentais para sacramentar o aumento dos juros no dia 15.
ENTENDA
O que significa para o brasileiro o aumento dos juros americanos?
O impacto mais imediato é no dólar. A tendência é que a moeda americana ganhe força nos próximos meses em relação ao real e a outras moedas emergentes. Isso acontece porque a tendência é que os investidores estrangeiros deixem os mercados de países emergentes (com juros mais atrativos, mas com risco maior) e rumem para os EUA, atraídos pelo aumento da taxa. Essa saída de dólar torna a moeda mais rara, elevando seu preço
Mas, fora o turista que vai para os EUA, alguém mais é afetado com o dólar mais caro?
A valorização da moeda americana é sentida em diversos setores da economia. Um dos que sentem o impacto mais fortemente é o exportador, já os preços dos produtos ficam mais competitivos lá fora. Empresas que importam matériaprima, porém, são prejudicadas e têm que repassar o aumento de preços para o consumidor. Esse reajuste, que tem impacto na inflação, é sempre complicado, ainda mais em um momento de desemprego alto no país
Subir juros não é ruim para a economia? Por que os EUA estão fazendo isso?
Juros muito baixos também podem ser nocivos para a economia. “Despejar” dinheiro barato na economia pode não só estimular inflação como incentivar a criação de bolhas (no mercado de ações e imobiliário, por exemplo)
Essa é uma decisão de Donald Trump?
Não, o BC dos EUA é independente. O aumento dos juros é um reflexo da economia, que está com taxa de desemprego muito baixa e com longo período de crescimento do PIB (11 trimestres seguidos)