Os trabalhadores com ensino médio completo ou escolaridade superior tiveram em 2015 perda salarial proporcionalmente maior do que as pessoas com menos anos de estudo, nas seis maiores regiões metropolitanas.
Com a oferta de emprego mais restrita na crise, os profissionais com mais instrução aceitaram salários mais baixos e funções de menor qualificação para conseguir novo trabalho, dizem economistas.
Segundo dados da pesquisa de emprego do IBGE, o rendimento real (que desconta a inflação) dos ocupados com 11 ou mais anos de estudos recuou de R$ 2.884 em 2014 para R$ 2.747 no ano passado, queda de 4,8%.
Essa perda superou -em termos absolutos e proporcionais- a dos ocupados sem instrução ou menos de oito anos de estudos, que foi de 2,8%, para R$ 1.252. E também foi maior que a dos trabalhadores com oito a dez anos de estudo -baixa de 3,2%, para R$ 1.371.
Segundo Thiago Xavier, economista da Tendências, o fato de a crise ser prolongada -pode ser uma das mais longas e intensas recessões já documentadas no país- estaria gerando uma subalocação da força de trabalho.
“Os trabalhadores desempregados têm cada vez menos opções de vagas à medida que a crise se prolonga. Eles então acabam aceitando postos com salários menores e em áreas diferentes.”
Os profissionais estão aceitando receber menos para ocupar até as mesmas funções, mostra levantamento da agência Page Personnel com 10 mil candidatos (a maioria de ensino superior).
A expectativa de salário caiu 43%, na média. Um engenheiro de projetos em construção civil esperava ganhar de R$ 8.000 a R$ 12 mil mensais no início do ano passado. Ele agora aceita de R$ 6.000 a R$ 8.000 para desempenhar o mesmo trabalho.
Isso também aconteceu em outras funções e carreiras, como gerente de marketing, coordenador de TI e analista de comércio exterior, de acordo com a pesquisa da agência de recrutamento.
“Há mais profissionais qualificados disputando a mesma vaga, então o salário cai. Para a empresa, é bom neste momento pagar menos, porque ela precisa cortar salários”, disse Lucas Oggiam, gerente da Page Personnel.
CUSTO HUMANO
Se de um lado está mais barato contratar, de outro as empresas estão perdendo o que os especialistas gostam de chamar de “capital humano”, que são os profissionais mais treinados e especializados em suas áreas.
“Demitir trabalhadores mais educados é também muito custoso porque são mais produtivos para as empresas”, afirma José Márcio Camargo, economista da Opus Investimentos e professor da PUC-Rio.
Isso não significa, no entanto, que o diploma seja uma desvantagem na crise: a mão de obra qualificada tem mais facilidade para se realocar no mercado de trabalho em momentos como este.
Um sinal disso é que o total de trabalhadores empregados com 11 ou mais anos de estudo não encolheu no ano passado. Eram 15,5 milhões de pessoas no final do ano passado, mesmo patamar do fim do ano anterior.
Essa ocupação não encolheu apesar de a indústria –que usualmente contrata funcionários mais qualificados e os remunera melhor– ter sido um dos setores que mais demitiram em 2015.
Para Thais Marzola Zara, economista da Rosenberg Associados, outra explicação é que parte dos trabalhadores menos instruídos recebe salário mínimo, que é anualmente reajustado pelo governo com base na inflação.
“A população ocupada com menor qualificação tende a ter salários menores, mais próximos do mínimo, o que, de certa forma, acaba protegendo um pouco o rendimento médio.”
A renda dos trabalhadores mais escolarizados também já vinha crescendo abaixo da dos demais profissionais nos últimos anos. Entre os motivos, está o aumento da oferta de profissionais com ensino superior, o que gera maior concorrência por vagas.