PORTO ALEGRE E NOVO HAMBURGO (RS) – Em comício que reuniu cerca de cinco mil pessoas em Porto Alegre na noite desta sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff (PT) acusou os adversários de estarem “azarando” seu governo e o país. Rodeada de candidatos locais e de militantes, Dilma disse que, durante a campanha, vai se comportar como o ex-presidente Lula: “não falo o nome de adversário nem morta, como o Lula fazia”. No ato, a petista também chamou os adversários de “arrochadores de salários” e de “desempregadores”.
— Aqui, neste comício, não estão aqueles que ficam azarando, que fazem olho gordo para o governo e para o país. Aqui não estão aqueles que se ajoelharam e quebraram o país por três vezes. Aqui os pessimistas não têm vez. Agora, somos aqueles que vão vencer o pessimismo, a desinformação e as inverdades. Quem vai vencer é a verdade, e sabem por quê? Porque nós temos o que mostrar – discursou.
A presidente chegou ao local da manifestação pouco antes das 20h, acompanhada do governador Tarso Genro — também candidato à reeleição — e do ministro Ricardo Berzoini (Relações Institucionais). No Rio Grande do Sul, Dilma lidera a disputa presidencial, segundo as pesquisas de opinião, com mais de 40% das intenções de voto.
O presidente do PT, Rui Falcão, também estava no ato. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que havia sido anunciado, não compareceu. O comício foi o primeiro ato da coligação que apoia Dilma no estado, que inclui, além do PT, o PTB, PC do B, PPL, PTC, PROS e PR.
Antes de discursar, Dilma foi exigida por militantes, candidatos, parlamentares e dirigentes partidários para tirar fotos. Foram dezenas de selfies no palanque montado ao lado do estádio Beira-Rio. A presidente também recebeu uma camiseta estampada com uma foto sua durante interrogatório na Justiça Militar na ditadura, com a frase “Renovar a Esperança”. Durante o ato, a presidente ensaiou passos de dança ao som dos jingles da campanha.
Mais cedo, em Novo Hamburgo, a presidente afirmou que não pretende acabar com o fator previdenciário para o cálculo das aposentadorias se for reeleita. Dilma, que visitou uma linha de metrô recém-inaugurada entre as cidades de São Leopoldo e Novo Hamburgo, na região metropolitana, disse que quem promete o fim do fator previdenciário tem de informar como vai pagar a conta da Previdência Social.
— Todo mundo, para ser presidente da República, tem a obrigação e a responsabilidade de explicar para a população que não está fazendo demagogia. Tem que explicar: se acabar (o fator previdenciário), como é que paga? Como é que fica a conta pública? — questionou a presidente.
O fator previdenciário foi criado em 1999, durante o segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O mecanismo aumentou o tempo de contribuição para novas aposentadorias e tem sido criticada sistematicamente pelas centrais sindicais do país, porque pode ter impacto negativo de até 30% no valor das pensões. Mesmo com o fator previdenciário, o déficit nas contas da Previdência foi de R$ 51 bilhões no ano passado.
Em dezembro de 2013, o então candidato do PSB Eduardo Campos defendeu o fim do fator previdenciário e cogitou incluir a proposta no seu programa de governo, alegando que o impacto seria inferior a R$ 9 bilhões ao ano – menos que os incentivos fiscais dados pelo governo a setores industriais durante o combate à crise mundial. O candidato tucano Aécio Neves critica o mecanismo, mas nunca se comprometeu publicamente com sua substituição.
Durante a visita ao metrô, Dilma percorreu dois trechos da linha junto com usuários comuns. Acompanhada do ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, do presidente do Trensurb, Humberto Kasper, e do prefeito de Canoas, Jairo Jorge, Dilma embarcou na estação Santo Afonso e foi até a estação Fenac. Durante o trajeto, ficou de pé no trem.
Na entrevista, a presidente ironizou os adversários dizendo que é impossível reduzir a meta de inflação sem afetar diretamente os programas sociais do governo. Segundo ela, “se alguém falar para vocês que vai reduzir a meta da inflação, no dia seguinte tem de cortar programa social”.
— Não tem. A equação simplesmente não fecha — disse.
A candidata também minimizou os índices de geração de empregos em julho, que apontaram o menor nível desde 1999, e voltou a reclamar da má vontade de setores da imprensa com seu governo. Segundo ela, a indústria alemã, classificada como “a mais competitiva do mundo”, está em queda sistemática há oito meses ainda como reflexo da crise econômica de 2008 e 2009.
De acordo com Dilma, “em nenhum momento de meu governo houve flutuação (da taxa de emprego) para baixo”. Segundo ela, as consequências da crise internacional não afetaram nem o salário dos trabalhadores e nem a geração de vagas no país.
— É óbvio que tem uso eleitoral dos processos de flutuação. Agora, uma coisa interessante: quando é para cima, ninguém anuncia muito não. Quando a inflação começou a cair, eu não vi na primeira página de nenhum jornal escrito que a inflação está caindo. Por isso que eu vou aproveitar o meu período eleitoral para esclarecer a população — disse.
A exemplo do ex-presidente Lula, que criticou a imprensa por supostamente esconder as realizações do governo, Dilma também disse ter “absoluta certeza” de que as obras da sua gestão não são mostradas aos eleitores pelos meios de comunicação. Ela citou os programas de incentivo à indústria (PSI), de formação de mão-de-obra técnica (Pronatec) e de financiamento de ensino universitário (Fies) como exemplos de realizações que não são mostradas pela imprensa.
— Você sabia que 75% dos beneficiados do Fies têm renda entre um e meio e três salários mínimos? Pois é, isso que você é jornalista — brincou a presidente.
Dilma também defendeu a utilização do horário gratuito da propaganda eleitoral para mostrar as realizações de seu governo:
— Eu tenho interesse imenso, durante o meu período de campanha, de falar do que eu fiz. Estranho seria o contrário. Eu quero falar de tudo o que eu fiz e inclusive das coisas por fazer. Porque, cá entre nós, falta fazer muita coisa. Agora, te digo isso: só sabe que falta muita coisa e sabe o que falta fazer quem fez. Quem não sabe fazer, quem nunca fez, fica difícil confrontar.