Fechamento de vagas de trabalho vai da indústria à agropecuária neste ano

DCI
Dados oficiais mostram que as demissões se espalharam pelos setores econômicos em 2016. Especialistas destacaram a substituição de funcionários antigos e a força do agronegócio no País.

Em 2016, ninguém está imune à crise. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que as demissões se espalharam pelos setores da economia e afetam funcionários dos setores industrial, de serviços e agropecuário.

Entre os grupos ocupacionais com maiores saldos negativos – quando as demissões superam as contratações – são encontrados trabalhadores de soldagem, vendedores de lojas e produtores agrícolas. As informações foram enviadas ao DCI pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social (MPTS).

Nos primeiros quatro meses de 2016, os vendedores de lojas e mercados ocupam o primeiro lugar entre os grupos com piores saldos de vagas. As demissões superaram as contratações em 98.322 postos de emprego.

Em seguida, aparecem trabalhadores agrícolas da fruticultura (-27.048) e da cultura de gramíneas (-25.944). Completam as cinco primeiras posições caixas e bilheteiros (-24.037) e escriturários em geral (-11.963).

Segundo Anna Cherubina, professora de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), o quadro do mercado de trabalho mudou neste ano. “Em 2015, as demissões estavam mais focadas na construção civil e na indústria. Agora, os cortes superaram essas bases iniciais e se espalharam por toda a economia”, explicou a especialista.

Ela destacou também a tendência de substituição de trabalhadores antigos, que costumam ter salários maiores, por funcionários mais novos. Em muitos casos, esses novos contratados acumulariam funções que antes eram exercidas por mais de um empregado. “São formas das empresas otimizarem seu rendimento e reduzirem custos.”

Esse movimento explicaria os altos índices de contratações em grupos que tiveram saldos negativos elevados. Enquanto 650.815 vendedores de lojas e mercados foram demitidos no primeiro quadrimestre, outros 552.493 foram admitidos em igual período.

Ainda de acordo com a professora, o futuro para os trabalhadores não deve trazer boas notícias. Após afirmar que a quantidade de desempregados por vagas abertas cresce a cada dia, Cherubina concluiu: “a crise econômica criou um emaranhado difícil de sair”.

No azul

Na ponta oposta da tabela, os maiores saldos positivos são encontrados em grupos relacionados à educação e agricultura. Ainda assim, a liderança é ocupada por alimentadores de linha de produção (16.865), cargo ligado à indústria. Em seguida, aparecem trabalhadores de apoio à agricultura (12.291) e professores do ensino fundamental (12.148).

Também constam no topo da lista professores da educação infantil (10.072), operários da mecanização agropecuária (9.761), preparadores de fumo (7.207) e professores do ensino médio (5.605).

A força econômica do agronegócio no Brasil “é a principal justificativa para as contratações no setor”, disse Antônio Carlos Alves dos Santos, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Já sobre as admissões em educação, o entrevistado lembrou que foram criadas muitas universidades nos últimos anos. “Parte delas começou a contratar professores recentemente”, aponta. Santos disse que uma “parcela considerável” dessas contratações seria feita por concurso público.

Ele afirmou, ainda, que alguns estados do País – como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul – estão investindo mais em educação. “As áreas que têm maior participação do agronegócio e vivem momento econômico melhor estão contratando mais professores.”

Balanço

Entre janeiro e maio deste ano, o Caged indicou que as demissões superaram as admissões gerando saldo negativo de 448,1 mil vagas. Em 12 meses, o rombo é de 1,781 milhão de postos formais a menos.

Em maio, o resultado ficou no vermelho em 72.615 vagas, com 1,282 milhão de dispensas e 1,209 milhão de contratações. Os ramos da economia que mais fecharam postos foram serviços (-36.960) e comércio (-28.885). As demissões também superaram as admissões em construção civil (-28 740), indústria de transformação (-21.162), extrativa mineral (-1.195) e serviços industriais de utilidade pública (-181).

Por outro lado, agricultura (+43.117) e administração pública (+1.391 pessoas) ficaram no azul em igual período. As duas áreas são as únicas com saldo positivo no acumulado deste ano.

A taxa de desemprego, medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), está em 11,2%.