Grécia aprova pacote de austeridade em meio a protestos; cem ficam feridos

13/02/2012 – 10h23 / Atualizada 13/02/2012 – 10h55

Do UOL, em São Paulo

O Parlamento da Grécia aprovou nesta segunda-feira (13) um impopular pacote de medidas de austeridade, que prevê profundos cortes em salários, pensões e de emprego. O “sacrifício” é exigido para garantir um empréstimo internacional de 130 bilhões de euros e evitar a quebra do país.

A decisão ocorreu em meio a uma onda de revolta popular. Cinemas, cafés, shoppings e bancos eram vistos em chamas na região central de Atenas, e manifestantes com máscaras pretas enfrentavam a política do lado de fora do Parlamento.

A polícia informou que 150 lojas foram saqueadas e 48 prédios incendiados na capital. Cerca de cem pessoas, incluindo 68 policiais, ficaram feridas e 130 foram presas.

Houve também violência em outras cidades, incluindo Salônica, a segunda maior do país, e as ilhas de Corfu e Creta, disse uma autoridade, que não quis identificar-se.

O primeiro-ministro, Lucas Papademos, fez um apelo à “calma” e disse que não permitirá o caos.

A Grécia precisa de financiamentos internacionais antes de 20 de março, para pagar 14,5 bilhões de euros em dívidas e evitar um calote que poderá sacudir toda a zona do euro. A ajuda será concedida por Comissão Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI).

A rebelião e a violência nas ruas dão uma prévia dos problemas que o governo grego enfrenta para implementar os cortes, que incluem uma redução de 22% no salário mínimo –um pacote que, segundo críticos, condena a economia a se afundar numa espiral de baixa ainda mais profunda.

Segunda-feira de contar prejuízo

Moradores e funcionários municipais de Atenas se voltavam nesta segunda-feira para a remoção de pedras, destroços e vidros estilhaçados das ruas da cidade.

Os bombeiros jogavam água nos destroços de prédios incendiados por jovens encapuzados durante os protestos do dia anterior.

Segundo a imprensa grega, 48 edifícios arderam total ou parcialmente, entre sedes bancárias, grandes lojas e galerias comerciais.

A perda mais sentida é provavelmente a do cinema Attikon, construído em 1881 num belo edifício neoclássico, que queimou durante horas alimentado pelos coquetéis molotov e o material inflamável das poltronas e dos velhos rolos de filmes.

Outro cinema também pegou fogo, o ASTY, que pagou o preço por no passado ter sido um centro de torturas da Gestapo durante a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial. Um lugar simbólico numa sociedade que se sente oprimida pelas pressões da Alemanha da chanceler Angela Merkel.

Cerca de 150 estabelecimentos comerciais foram saqueados e seus proprietários se esforçavam para limpar os destroços e os vidros quebrados, no início de uma semana que deverá produzir uma nova dor de cabeça para as seguradoras.

Apesar da situação econômica crítica do país, a prefeitura de Atenas prometeu aos comerciantes ajuda para reconstruir o que foi danificado.

Como foi a votação no Parlamento

Ao todo, 199 dos 300 parlamentares gregos apoiaram o projeto de austeridade, mas 43 deles –de dois partidos do governo do primeiro-ministro, os socialistas e conservadores– rebelaram-se ao votarem contra. Eles foram imediatamente expulsos de suas legendas.

A lei estabelece um corte orçamentário extra de 3,3 bilhões de euros apenas para este ano.

Difícil missão do premiê

Papademos, um tecnocrata que caiu de paraquedas na crise, condenou a pior onda de protestos desde 2008, quando a violência assolou a Grécia por semanas após a polícia atirar num estudante de 15 anos.

“Vandalismo, violência e destruição não têm lugar num país democrático e não serão tolerados”, afirmou ele ao Parlamento conforme preparava a votação.

Mas ele admitiu que será difícil impor as medidas de auteridade sobre a nação, já golpeada por vários anos de cortes.

“A total, oportuna e eficaz implementação do programa não será fácil. Estamos totalmente cientes de que o programa econômico significa sacrifícios de curto prazo para a população grega”, disse Papademos.

Pressão da União Europeia e do FMI

A União Europeia (UE) e o FMI afirmaram que eles tiveram promessas quebradas o suficiente e os empréstimos serão liberados somente com o compromisso claro de líderes políticos gregos de que vão implementar as reformas, independente de quem vença as eleições a serem realizadas provavelmente em abril.

A Alemanha, tesoureira da zona do euro, aumentou a pressão no domingo. “As promessas da Grécia não são mais suficientes para nós”, afirmou o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble, em uma entrevista publicada no jornal Welt am Sonntag.

“A Grécia precisa fazer a sua lição de casa para se tornar competitiva, seja em conjunção com um novo programa de resgate ou por outra rota que nós realmente não queremos tomar.”

Quando questionado se outra rota significava sair da zona do euro, Schaeuble disse: “Está tudo nas mãos da Grécia. Mas até mesmo nesse evento (a Grécia deixar a zona do euro), eles continuarão fazendo parte da Europa.”

(Com informações de Reuters, Efe e France Presse)