Montadora suspendeu fabricação de veículos em três das quatro fábricas no país; porto de Rio Grande está parado em plena safra de soja.
Em todo o Brasil, cresceu o número de indústrias que tiveram que parar. Ou que enfrentam problemas para entregar o que produziram.
Máquinas desligadas e o silêncio onde antes havia o som do trabalho. Uma metalúrgica na Zona Leste de São Paulo que produz autopeças e componentes para distribuição de energia já está com 15 máquinas paradas por falta de matéria-prima. Como nada mais chega, nada mais do que é vendido e exportado sai dali. E lá se vão 20% do faturamento, prejuízo em efeito dominó.
“Eu não tenho matéria-prima para trabalhar, tenho produto pronto pra faturar, mas não consigo escoar minha produção nem receber material para trabalhar a mais”, diz Ricardo Mota, diretor comercial.
Quando as peças não chegam às montadoras param. Foi o que aconteceu numa linha de montagem no interior de Goiás: 300 carros deixaram de ser fabricados.
Mesma situação em outra montadora, que suspendeu a fabricação de veículos em três das quatro fábricas no país.
O efeito dominó também se repete no setor farmacêutico.
Em Anápolis, Goiás, falta matéria-prima para a produção de remédios e cinco das 19 indústrias da região pararam. Até a produção de soro está ameaçada pela falta de insumos.
“Em torno de 45% da indústria brasileira que não está produzindo. Diversos setores estão paralisados pela falta de insumos, falta de trabalhadores, falta de possibilidade de escoamento da produção”, afirma Robson Andrade, presidente da CNI.
Em Limeira, no interior de São Paulo, a fábrica de papel não consegue entregar nada desde quarta-feira (23) e deve parar na terça-feira (29). Como o papel produzido é para embalagens, outras empresas podem ficar sem ter como empacotar os seus produtos.
“Tanto não entra caminhão de matéria-prima como também, esse mesmo caminhão, normalmente a gente usa para escoar o produto acabado, e isso não está acontecendo”, diz o diretor industrial Antônio Pupim.
A greve dos caminhoneiros também afeta o comércio exterior.
Em Vitória, o porto está parado há cinco dias, um prejuízo de R$ 10 milhões. Os contêineres se acumulam com produtos como grãos, veículos e combustíveis.
O porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, está praticamente parado, isso em plena safra de soja. Há uma semana nenhum caminhão descarrega ali.
Movimentação também abaixo do normal também no maior porto do país, o de Santos.
“É impossível quantificar totalmente qual é o prejuízo e a perda do país nesse momento, o que se sabe é que o número é absurdo pela realidade que é a logística do exterior e que as consequências não se encerrarão quando parar a greve dos carreteiros não, essa é uma consequência de médio e longo prazo”, explica Sérgio Aquino, presidente da Federação Nacional de Operações Portuárias.
O setor de alimentação é um dos que mais sofrem porque tem produtos que estragam muito fácil.
As câmaras frias deveriam estar cheias de comida congelada para a distribuição, mas a produção que serve o país todo está retida na fábrica em Minas Gerais. Lá, são 400 funcionários parados. No entreposto de São Paulo, 15 caminhões deixaram de circular. O prejuízo é de cerca de R$ 1 milhão por dia e pode aumentar muito.
São dez carretas com produtos descongelando na estrada.
“Deve ter mais de 200 toneladas de produto que vai ser descartado, não tem mais como recuperar”, diz o, diretor comercial Ronaldo de Oliveira.