Ainda é cedo para dizer se 2018 será marcado por um aumento das greves, após um 2017 morno, mas nas últimas semanas diversas categorias importantes começaram a se mobilizar, tendo como pano de fundo os impasses gerados pela reforma trabalhistas, além de outras demandas.
Em São Paulo, trabalhadores da construção civil e da montadora Mercedes-Benz estão atualmente de braços cruzados. No sábado, professores da rede privada paulistana decidem se entram em greve pela manutenção da convenção coletiva da categoria. Já os petroleiros ameaçam parar contra a venda de ativos pela Petrobras e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Estamos negociando desde fevereiro, mas com a reforma trabalhista, as empresas entendem que não devem assinar a convenção, porque acham que é o momento para flexibilizar os direitos dos trabalhadores”, diz Antonio de Sousa Ramalho, presidente do Sintracon-SP, sindicato ligado à Força Sindical que representa trabalhadores da construção civil na Grande São Paulo.
A entidade diz que ontem, primeiro dia de greve da categoria, 452 canteiros e 35 mil trabalhadores paralisaram atividades, num universo de mais de 10 mil canteiros e 270 mil profissionais. Com data-base vencida em 1º de maio, os trabalhadores reivindicam a manutenção das cláusulas sociais pré-existentes e aumento real de 2%, além da reposição da inflação acumulada em 1,69%.
O Sinduscon-SP, sindicato patronal, não confirma o número de canteiros parados e diz estranhar a opção dos trabalhadores pela greve, afirmando que as negociações estão em andamento e nunca foram interrompidas. Haruo Ishikawa, vice-presidente de relações capital-trabalho da entidade, avalia que as cláusulas econômicas não deverão ser problema na negociação, num contexto de inflação baixa. Na visão do empresário, o principal ponto de impasse diz respeito a como tratar na convenção coletiva a questão da contribuição assistencial, após a reforma trabalhista.
A mudança da CLT também está por trás da mobilização dos professores da rede privada paulistana. Com data-base vencida em março, os educadores brigam pela manutenção das cláusulas sociais da convenção coletiva da categoria, que vinha sendo renovada sem maiores problemas nos últimos 20 anos, segundo Silvia Barbara, diretora do Sinpro-SP.
“Influenciado pela reforma trabalhista, o sindicato patronal este ano propôs 26 alterações na convenção coletiva e 90 retiradas de cláusulas”, enumera. “Eles querem desregulamentar na convenção, de maneira a que cada escola defina suas próprias regras”, afirma a sindicalista.
Antes da assembleia no sábado, escolas (representadas pelo Sieeesp) e professores têm na quinta-feira nova audiência de conciliação no Tribunal Regional do Trabalho. “Não estamos otimistas, pois na primeira audiência na Justiça o Sieeesp assinalou que poderia aceitar proposta de conciliação e depois voltou atrás”, afirma Barbara.
No início de maio, professores das escolas particulares de Minas Gerais conquistaram a renovação da convenção coletiva da categoria após dez dias de greve, em movimento considerado vitorioso e visto como exemplo pelos professores paulistanos.
No primeiro trimestre do ano, foram realizadas 408 greves, contra 433 em igual período de 2017, aponta levantamento preliminar do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Segundo José Silvestre, coordenador de relações sindicais da entidade, se mantida no resto do ano a tendência de janeiro a março, o número de greves de 2018 pode ser parecido com o de 2017, quando houve queda nas paralisações.
No ano passado, foram realizadas 1.570 greves, conforme o Dieese, contra 2 mil em 2016, numa queda de 21%. O número de paralisações de 2017 também representa uma retração de quase 25% em relação à media do período de 2013 a 2016. Para Silvestre, uma explicação possível para a baixa no número de greves no ano passado foi a realização de mobilizações nacionais contra as reformas, que podem ter canalizados os esforços sindicais.
“Em 2018, por um lado, a questão da reforma trabalhista tende a ser um fator de ampliação das greves, na medida em que ela precariza e reduz direitos”, diz Silvestre. “Por outro lado, os trabalhadores ainda estão pressionados pelo desemprego e os sindicatos, pelo estrangulamento do financiamento sindical”, pondera.
Enquanto isso, seguem acontecendo outras greves, não diretamente relacionadas aos impasses da reforma. Os trabalhadores da Mercedes-Benz entram hoje em seu terceiro dia de paralisação, devido a questões ligadas a reposição salarial, valor da participação nos lucros e resultado e cláusulas sociais do acordo.
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana conta que a entidade está em negociações também com a Scania e a Ford, enquanto a Volkswagen tem um acordo válido por cinco anos e a Toyota inicia negociações em breve. Segundo o sindicalista, a possibilidade das demais tratativas resultarem em paralisações dependerá da evolução das negociações, mas a entidade sempre trabalha para evitar a medida extrema.