Artigo de Pedro Luiz Passos
O mundo vive momentos de apreensão devido às mudanças no cenário político global e em diretrizes econômicas que pareciam consolidadas.
No Brasil, as incertezas se acentuam em razão de uma recessão mais profunda e renitente do que se previa. Os países desenvolvidos, por sua vez, apresentam há mais de uma década taxas de crescimento modestas, provocadas, na visão de alguns especialistas, pelo baixo impacto das inovações tecnológicas na evolução da produtividade.
A meu ver, é um quadro que se encontra no limiar de uma profunda mudança, que, embora ainda em fase de amadurecimento, começa a ganhar contornos mais precisos. Os americanos a chamam de manufatura avançada ou manufatura inteligente, enquanto os alemães preferem a denominação indústria 4.0.
Em ambos os casos, trata-se de forma inédita e transformadora de organizar as cadeias de suprimento, a produção e a comercialização, revolucionando a indústria, os serviços e os demais setores da economia.
A essência dessa revolução reside na inteligência que as máquinas passarão a ter para coletar e processar informações necessárias à tomada de decisão para organizar a produção.
A nova indústria se caracteriza pela integração de tecnologias já conhecidas, como inteligência artificial, impressão 3D, big data, computação em nuvem, internet das coisas e realidade ampliada, entre outras. O diálogo contínuo entre tais vetores vai dotar as fábricas de um grau inédito de eficácia e autonomia.
Os custos serão menores, e os ganhos de eficiência e de produtividade, extraordinários. A transformação também permitirá atender às particularidades de cada mercado consumidor, unindo o melhor de dois mundos: a manufatura customizada e o baixo custo de produção.
O avanço do processo dependerá da velocidade da evolução tecnológica e do ritmo que as empresas vão imprimir às mudanças, além das ações públicas orientadas ao tema.
Grandes grupos empresariais e os países líderes industriais já dão passos significativos nessa direção. Na Alemanha, a meta é reforçar as competências de seu sistema fabril para responder à concorrência asiática e preservar seu papel de provedor mundial de bens de capital.
Nos Estados Unidos, o objetivo é mobilizar o gigantesco arcabouço de pesquisa para manter a liderança do progresso tecnológico.
Além disso, no caso dos americanos, empresas de tecnologia, como Google, Apple, Amazon e Facebook, entre outras, veem a manufatura avançada como uma porta aberta para o desenvolvimento e consolidação de novos modelos de negócio.
A combinação da indústria 4.0 com novos formatos de negócios vai gerar padrões e hábitos de consumo capazes de afetar setores inteiros.
O advento do veículo autônomo, por exemplo, associado aos serviços de compartilhamento, derrubará a venda de automóveis. Para alguns especialistas, tal movimento levará à redução da frota de veículos para patamares equivalentes a algo entre 10% e 20% dos volumes atuais.
Assim como ocorreu em outros momentos de ruptura, a indústria 4.0 cria oportunidades para que novas economias se integrem às cadeias globais de valor e ocupem espaços mais relevantes no mundo.
Por contar com uma diversificada base industrial, o Brasil reúne condições de aproveitar a janela aberta por essa revolução. Mas o tema nem sequer aparece na pauta de debates no país, pois nossas energias são inteiramente consumidas pelo esforço em consertar os erros das recentes gestões econômicas. Não é desculpa aceitável, porém, para que o Brasil perca mais essa oportunidade.