Os três primeiros meses deste ano foram difíceis para os fabricantes brasileiros de calçados e os sinais de que os desafios devem perdurar ao menos até o final de junho estão no radar da maioria das empresas do setor. A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) já projeta queda de 3% na produção em 2014 ante o ano passado. Em janeiro, a entidade espera manter o volume produzido em 2013.
“Em janeiro já prevíamos um ano ruim por conta do ingresso de importados asiáticos e pelos efeitos da taxa de câmbio desfavorável às exportações”, disse o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein.
De três companhias que divulgam seus números ao mercado, apenas a Alpargatas teve crescimento de 0,1% nas vendas no primeiro trimestre ante o mesmo período do ano passado. Sobre quarto trimestre de 2013, porém, as vendas recuaram 21,5%. Analistas acreditam que a modesta expansão anual foi garantida pela venda de sandálias de borracha já que a Alpargatas é detentora da marca Havaianas.
Segundo o diretor-presidente da Alpargatas, Márcio Utsch, o ambiente de negócios no Brasil foi mais desafiador no começo de 2014 frente ao mesmo período do ano passado, com inflação e juros em alta e câmbio mais volátil. “Esse cenário, aliado ao sentimento de maior incerteza quanto à renda e ao emprego, alterou o comportamento dos consumidores brasileiros, que foram mais cautelosos e seletivos em suas compras”, disse em teleconferência para detalhar os números.
Vulcabras|Azaleia e Grendene também atribuíram ao cenário macroeconômico o fraco desempenho no começo do ano. A primeira teve queda de 0,2% na receita líquida ante igual intervalo do ano passado. A segunda, porém, mostrou alta de 1,6%, garantida por reajuste médio de 15% nos preços uma vez que sua produção recuou 11% no período.
“Tomando como base o primeiro trimestre, os volumes devem cair em 2014. As margens foram piores que igual período de 2013 e no segundo trimestre esperamos também margens piores”, disse, o diretor de Relações com Investidores da Grendene, Francisco Schmitt.
Na opinião do presidente da Abicalçados, a Copa do Mundo acabou se tornando concorrente. “As famílias de classe média baixa, por exemplo, têm um determinado valor para ser aplicado em produtos como calçados. Mas diante da Copa esses recursos são capturados por produtos relacionados ao evento”, acredita Klein.
De acordo com pesquisa recente do Iemi Inteligência de Mercado, a produção nacional deve apresentar queda de 1,9% em volume neste ano enquanto o consumo aparente (soma de produção e importação menos exportação) pode cair 2,6%, ambos na comparação com 2013.
“As expectativas são de que os artigos importados alcancem uma participação de 5,1% sobre o consumo aparente em volume de pares e as exportações representem 14,8% da produção, quando considerados todos os grupos de calçados produzidos e consumidos no País”, diz o diretor do IEMI, Marcelo Prado.
Argentina
Klein comentou também que o setor vem sendo penalizado desde agosto de 2013 por bloqueios na Argentina. “Chegamos a ter mais de 2,5 milhões de pares parados. Desses, cerca de 400 mil tiveram que ser destinados a outros mercados”, lembrou, destacando que, atualmente, as fabricantes brasileiras têm encomendas da ordem de 380 mil pares para serem enviados à Argentina.