Diário do Grande ABC
Entre janeiro e setembro deste ano, a indústria metalúrgica demitiu cerca de 11,3 mil trabalhadores no Grande ABC, segundo os três sindicatos que representam a categoria na região. O número equivale a quase 42 dispensas por dia e corresponde a pouco mais da metade (57%) do que foi registrado em todas as fábricas locais.
A maior parte dos cortes ocorreu na base do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que abrange São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Foram fechados 7.705 postos de trabalho formais no acumulado do ano, sendo 2.173 nas montadoras de veículos de São Bernardo. A cidade possui cinco fábricas do tipo: Ford, Mercedes-Benz, Scania, Toyota e Volkswagen. Outros 1.992 foram demitidos das indústrias de autopeças, enquanto 3.540 cortes ocorreram nas demais fábricas do setor (como fundição, forjaria e eletroeletrônicos).
Representantes do sindicato não foram localizados para comentar os dados. Entretanto, a assessoria de imprensa da entidade afirma que a quantidade de cortes nas montadoras foi menor em razão de as empresas terem aderido ao PPE (Programa de Proteção ao Emprego), plano lançado neste ano pelo governo federal e que permite ao empregador reduzir os salários e a jornada de trabalho em até 30% durante momentos de crise. Na base, Ford, Mercedes e Volkswagen aderiram.
Em Santo André e Mauá, foram contabilizadas cerca de 2.000 dispensas, segundo Sivaldo da Silva Pereira, o Espirro, secretário-geral do sindicato que representa os metalúrgicos dessas duas cidades – que não possuem montadoras, mas contam com forte indústria de autopeças. Além do desaquecimento da economia do País, o sindicalista cita outro motivo que agravou a situação específica desse mercado: o fim da produção, em 2014, dos modelos Kombi e Gol G4 (ambos da Volkswagen) e Uno Mille, da Fiat. “Conforme esses veículos vão saindo de circulação, diminui a demanda por peças de reposição. Com isso, as fábricas têm de ajustar o quadro de funcionários”, explica.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, Aparecido Inácio da Silva, o Cidão, estima 1.600 demissões na cidade neste ano, sendo aproximadamente 1.200 na General Motors. A situação pode piorar ainda mais em 2016, já que a empresa (que tem aproximadamente 10 mil funcionários) possui 2.370 operários em lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho) até março, sendo que uma parte teria de voltar em janeiro. Boa parte deles, inclusive, foi suspensa com o encerramento do segundo turno, em outubro.“Mas ainda não foram abertas negociações para definir se eles realmente irão retornar ao trabalho”, admite Cidão. Para o sindicalista, se a GM optar por demitir esse efetivo, as consequências serão observadas em todos os setores da economia. Estudos do movimento sindical estimam que, para cada demitido em uma montadora, outros quatro perdem o emprego na cadeia produtiva.
O economista Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, atribui o cenário atual à alta nos juros, restrição ao crédito e queda no poder de compra da população, o que resulta em diminuição da demanda industrial. “Na realidade, todos os alertas que foram dados durante o primeiro mandato da Dilma (Rousseff), de que estava se gastando mais do que arrecadava e descuidando da inflação – visavam correção de rumo para evitar o cenário que estamos vivendo hoje. Como isso não foi feito, o ajuste é mais forte agora. E afeta principalmente os mais pobres.” Ele avalia que uma das saídas para a crise é a aposta nas exportações, já que, com o real desvalorizado, e equivalendo a cerca de R$ 4, cresce a procura do mercado internacional por produtos brasileiros.