Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO, 7 Mar (Reuters) – A produção industrial brasileira cresceu 2,5 por cento em janeiro sobre dezembro, acima do esperado e na maior expansão mensal em quase três anos, mas o resultado ainda é insuficiente para consolidar uma melhora nas expectativas sobre a retomada da atividade.
Na comparação com janeiro de 2012, a produção cresceu 5,7 por cento, informou nesta quinta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também acima do esperado. O resultado mensal de janeiro é o mais expressivo desde março de 2010, quando a atividade avançou 3,4 por cento.
Segundo pesquisa Reuters, a expectativa era de que a produção industrial subisse 1,55 por cento sobre dezembro e 4,45 por cento sobre janeiro do ano passado.
Todas as categorias de uso mostraram expansão em janeiro, com destaque para a produção de Bens de capital –ligado aos investimentos–, que subiram 8,2 por cento sobre dezembro (a maior desde junho de 2008) e de 17,3 por cento ante um ano antes, interrompendo uma sequência de 16 taxas negativas nessa comparação.
“A base mais fraca e o aumento de produção de caminhões e automóveis explicam esse nível mais alto de bens de capital”, afirmou o economista do IBGE André Macedo. “Tem impacto tanto da base reduzida como aumento da produção efetivamente.”
Segundo dados do setor, no primeiro bimestre a produção de caminhões disparou quase 73 por cento frente o mesmo período de 2012, para 13,9 mil unidades.
O segmento de caminhões vem sendo beneficiado por linhas e programas de financiamento do governo, que envolvem também tratores e equipamento agrícolas. Segundo o IBGE, a produção de veículos automotores cresceram 4,7 por cento ante dezembro de 2012, deixando para trás dois meses seguidos de queda. Só a produção de caminhões teve expansão de 206,4 por cento.
Além de Veículos automotores, outros 17 dos 27 ramos de atividade cresceram sobre dezembro. Entre as principais influências positivas estavam Refino de petróleo e produção de álcool (5,2 por cento) e Máquinas e equipamentos (5,7 por cento) foram outras das atividades que se destacaram.
OUTROS BENS
Ainda segundo o IBGE, a categoria Bens intermediários teve expansão bem mais modesta, crescendo 0,9 por cento sobre dezembro e 4 por cento sobre janeiro de 2012, enquanto Bens de consumo teve alta de 1,2 e 4,6 por cento, respectivamente.
Dentro desta categoria, os segmentos de bens de consumo duráveis tiveram expansão mensal de 2,5 por cento e de bens semiduráveis e não duráveis, de 0,2 por cento. Sobre janeiro de 2012, o crescimento foi de 10,3 e 3,0 por cento , respectivamente.
“O IPI subiu, mas ainda está mais baixo, o que estimula o consumo e os estoques das montadoras que foram usados no ano passado já estão mais baixos”, disse Macedo, referindo-se às alíquotas menores do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) que ainda valem para alguns segmentos, como linha branca e veículos.
O indicie de difusão da indústria atingiu em janeiro 52,3 por cento, o maior nível desde fevereiro de 2011, quando ficou em 61,3 por cento.
CAUTELA
O IBGE revisou também os dados de dezembro, que passaram a registrar leve alta de 0,2 por cento sobre novembro, ante estabilidade. Com isso, o resultado negativo de 2012 fechado reduziu marginalmente, a 2,6 por cento, frente a 2,7 por cento.
O mau desempenho da indústria brasileira no ano passado ocorreu apesar das medidas de estímulos do governo, que envolveram desde desonerações fiscais para consumo e produção à queda da taxa básica de juros Selic para a mínima histórica de 7,25 por cento ao ano.
Para o governo, o desempenho de janeiro confirma que a economia iniciou 2013 mais forte. Segundo uma fonte da equipe econômica, a avaliação é de que não são mais necessárias grandes medidas de estímulo “porque achamos que as que aí estão são suficientes”.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, foi no mesmo caminho, e defendeu que as decisões de política econômica têm efeito gradual e começarão a surgir ao longo do ano.
O bom resultado de janeiro, no entanto, ainda não animou totalmente os analistas, já que o setor vinha de períodos bastante ruins.
“Com certeza 2013 vai ter uma trajetória melhor para a indústria comparado com o ano passado, mas vai continuar sendo crescimento menor que a média da economia, puxando PIB para baixo”, afirmou o economista sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano.
O mercado, segundo última pesquisa Focus do Banco Central, vê a produção industrial crescendo 2,86 por cento neste ano, abaixo dos 3,09 por cento de expansão esperada para o Produto Interno Bruto (PIB).
Nos dados do PIB de 2012, a indústria registrou uma contração de 0,8 por cento, enquanto a economia como um todo cresceu 0,9 por cento. No quarto trimestre, porém, houve leve crescimento na atividade industrial de 0,4 por cento sobre os três meses anteriores, ainda segundo dados do PIB.
Uma das maiores preocupações do governo neste momento é estimular os investimentos que, no ano passado, registraram queda de 4 por cento. No final de 2012, no entanto, eles começaram a mostrar alguma recuperação, ainda que mantenham o sinal amarelo aceso.
“A despeito do forte resultado de janeiro, a indústria permanece em trajetória irregular de recuperação”, escreveu a equipe da LCA em nota, acrescentando que mantém a projeção de alta de 3,5 por cento para a produção do setor em 2013.
(Reportagem adicional de Diogo Ferreira Gomes, no Rio de Janeiro, e Brad Haynes, em São Paulo)